Capítulo 4: O Colapso

 Adauto sentia seu coração acelerar a cada passo que dava. A fumaça escura enchia o ar, tornando-o denso e difícil de respirar. Ele puxava sua família com firmeza, seus olhos nervosos percorrendo a multidão em pânico que se movia em direções opostas. A confusão estava em todo lugar; gritos de terror ecoavam, e as vozes das pessoas se misturavam em um clamor ensurdecedor.

De repente, um estrondo ainda mais ensurdecedor ressoou, e a terra sob seus pés pareceu tremer. Um novo choque atravessou o ar, e Adauto olhou para cima, seu estômago afundando quando viu o segundo avião colidir com a Torre Sul. O impacto foi devastador, e a cena de fogo e destruição ficou gravada em sua mente. O céu azul se tornava um mar de fumaça e chamas, e a realidade do que estava acontecendo começou a se estabelecer.

— Papai! — Briana gritou, sua voz se perdendo no caos. Seus olhos estavam arregalados de medo, e Adauto podia ver que ela não compreendia a dimensão do que estava acontecendo. — O que está acontecendo?

Adauto se virou para a filha, tentando manter a calma, mas as palavras pareciam falhar-lhe. Ele sabia que a verdade era muito difícil para uma criança de sete anos entender.

— É um acidente, querida. Precisamos nos afastar — respondeu ele, forçando um sorriso, mas sentindo uma onda de desespero e impotência. Ele se perguntava como poderia proteger seus filhos do horror que se desenrolava diante deles.

August, ao lado de Briana, segurava sua mão com força, tentando parecer forte, mas seus olhos traíam seu medo. Adauto desejava que pudesse fazer mais, que pudesse levá-los para longe daquela cena aterrorizante. Ele sentia uma crescente sensação de fracasso e culpa por ter levado sua família tão perto do perigo. O que ele estava fazendo? Era seguro?

— Vamos! — Adauto gritou, sua voz ecoando na multidão. O trânsito estava paralisado; carros parados ocupavam cada espaço da rua, e as pessoas se espremiam entre eles, correndo e empurrando umas às outras. Ele se sentia preso, como se o mundo estivesse desmoronando ao seu redor.

O instinto de sobrevivência de Adauto aflora, e ele decidiu que não poderia ficar ali. Eles precisavam se afastar.

— Para onde vamos, papai? — perguntou August, a voz tremendo.

— Apenas… longe daqui! — Adauto respondeu, puxando as crianças em direção a uma rua lateral, tentando encontrar um caminho mais seguro. O pânico estava em todos os rostos ao seu redor, e a atmosfera se tornava mais pesada a cada instante.

Enquanto eles lutavam para se afastar, Adauto não pôde deixar de sentir que estava falhando como pai. Ele queria que seus filhos se sentissem seguros, mas em vez disso, estava os levando para um lugar cheio de perigo. A culpa começou a consumi-lo. Como ele poderia ter imaginado que aquele dia terminaria assim? Ele deveria ter ficado em casa, longe do caos. Ele deveria ter protegido sua família.

Briana, que estava agarrando a mão da mãe, começou a chorar. A inocência da criança estava sendo destruída rapidamente, e Adauto queria confortá-la, mas não sabia como.

— Não se preocupe, meu amor! — disse Barbara, tentando acalmar a filha, mas sua voz tremia. — Estamos juntos, e vamos ficar bem.

Adauto sentia-se como se estivesse em um pesadelo. As pessoas ao redor gritavam, algumas caindo no chão, outras se empurrando em desespero para sair da zona de perigo. Ele olhou novamente para as torres, agora uma visão de destruição e desespero. O que havia acontecido com a cidade que ele havia sonhado em conhecer? A imagem de fogo e fumaça parecia estar gravada em sua memória, e ele se perguntava se conseguiria se esquecer.

— Vamos, pessoal! — Adauto disse, tentando manter a voz firme, apesar da crescente ansiedade em seu coração. — Precisamos chegar a um lugar seguro.

Enquanto se moviam, ele segurou a mão de Briana, que ainda estava assustada, e fez o mesmo com August. O filho mais velho olhou para ele, os olhos refletindo uma mistura de medo e confiança. Adauto sentiu uma onda de amor por seus filhos, uma determinação fervorosa de mantê-los a salvo.

— Tudo vai ficar bem, não vai? — perguntou August, buscando confirmação em seu pai.

Adauto hesitou por um momento, mas percebeu que precisava ser o exemplo de coragem que seus filhos precisavam. Ele respirou fundo, tentando controlar a própria ansiedade, e respondeu com firmeza:

— Sim, tudo vai ficar bem. Estamos juntos, e isso é o que importa.

No fundo, ele não tinha certeza se aquilo era verdade. Mas para August e Briana, ele precisava acreditar que tudo acabaria bem. E assim, enquanto o caos se espalhava, Adauto se concentrou em levar sua família para longe, em busca de segurança, mesmo que isso significasse deixar para trás tudo o que conheciam e amavam. A luta pela sobrevivência havia começado, e ele estava determinado a proteger aqueles que mais amava, independentemente do que acontecesse.