O fim da tarde trazia um silêncio acolhedor para a casa. Laura chegou mais cedo do trabalho, o que era raro, e decidiu não anunciar sua chegada de imediato. Gostava de surpreender Maria Isabel, de encontrá-la distraída em seu próprio mundo.
Depois de deixar a bolsa sobre o sofá, caminhou pelo corredor, ouvindo os pequenos ruídos do quarto da filha. O som abafado de vozes infantis. Não de uma criança conversando com outra, mas de uma criança encenando um diálogo sozinha.
Laura parou na porta entreaberta.
Maria Isabel estava sentada no tapete, cercada por bonecas espalhadas pelo chão. Ela segurava duas delas nas mãos, movendo suas cabecinhas de plástico conforme falava, mudando levemente a voz para cada personagem.
— Você precisa entender que mãe é quem cria! — disse Maria Isabel, com firmeza. — Não importa se você veio de outro lugar, você é minha filha e eu sou sua mãe!
Laura sentiu um nó na garganta.
A pequena continuou a cena, colocando uma expressão séria no rosto, como se as bonecas estivessem vivendo um grande conflito.
— Mas eu não me pareço com você... — falou Maria Isabel, mudando para um tom mais inseguro, como se fosse outra boneca respondendo.
Ela então pegou a primeira boneca de volta e, com a voz cheia de doçura, declarou:
— Isso não importa! Você mora no meu coração e isso é o que faz de mim sua mãe de verdade!
Laura levou as mãos à boca, tentando conter um soluço.
Ali, no meio das bonecas e dos diálogos inocentes, estava tudo o que ela precisava ouvir. Todas as palavras que passou meses escolhendo com cuidado, os medos que compartilhou com Beatriz, as inseguranças que pareciam nunca desaparecer... Maria Isabel havia absorvido tudo.
Seu amor tinha sido compreendido.
Engolindo o choro, Laura se aproximou em silêncio, sentando-se ao lado da filha. Maria Isabel levantou os olhinhos brilhantes e sorriu.
— Mamãe! Você chegou cedo!
— Cheguei — Laura respondeu, passando a mão pelos cachinhos da menina.
Maria Isabel pegou uma das bonecas e estendeu para a mãe.
— Quer brincar comigo?
Laura pegou a boneca e sorriu.
— Claro, meu amor.
E enquanto brincavam, Laura sentiu um alívio profundo, mas também uma emoção indescritível.
Seu amor era real. Sempre tinha sido.
E Maria Isabel sabia disso.