Capítulo 4 – O segredo revelado

 Dias depois, Leonardo resolveu voltar para casa mais cedo. O trânsito estava leve, e ele aproveitou a oportunidade para passar no supermercado antes de ir ao encontro de qualquer compromisso. Mas, ao abrir a porta do apartamento, algo imediatamente chamou sua atenção: vozes baixas e risadas abafadas vinham do quarto de Laura.

O coração dele disparou. Um pressentimento forte tomou conta do corpo, misturando surpresa e raiva. Aproximou-se da porta lentamente, percebendo que estava entreaberta. A voz masculina era inconfundível. Era Higor.

Leonardo empurrou a porta com força, e o impacto da madeira contra a parede fez o quarto inteiro estremecer.

Laura e Higor se levantaram rapidamente, os olhos arregalados pelo susto e pela vergonha. O clima de intimidade foi rompido em um segundo.

— Eu não acredito nisso! — gritou Leonardo, a voz cheia de fúria. — Minha própria irmã com o meu amigo!

Laura ficou pálida, congelada. O rosto dela queimava de vergonha, e a mente corria tentando organizar palavras que não viessem tão nervosas. Higor tentou se colocar à frente, pronto para se explicar, mas a raiva de Leonardo parecia impenetrável.

— Eu vou contar para todo mundo! — continuou Leonardo, a voz mais firme, agora carregada de ameaça. — Ninguém vai acreditar no que vocês fizeram escondidos!

O quarto parecia diminuir de tamanho. O ar pesado fazia cada respiração parecer mais difícil. Laura respirou fundo, sentindo o estômago apertado. Sabia que tinha apenas uma carta a jogar.

— Leonardo… — começou, a voz baixa, mas firme — se você contar, eu também vou falar.

Ele franziu a testa, confuso e surpreso.
— Falar o quê? — perguntou, a fúria dando lugar à curiosidade e ao receio.

Laura ergueu o queixo, encarando o irmão nos olhos.
— Eu sei do seu segredo.

O silêncio tomou conta do quarto. O relógio na parede parecia mais alto que a própria respiração. Higor olhou entre os dois, sem saber se deveria se pronunciar, mas Laura manteve firme o olhar.

Leonardo sentiu um frio percorrer a espinha. A raiva se misturava ao medo, ao desconforto de perceber que não tinha controle completo sobre a situação. Por alguns segundos, ninguém falou nada.

— Você… — começou Leonardo, hesitando, a voz baixa — você sabe mesmo?

— Sei — respondeu Laura, curta, quase cortante. — E se alguém deve guardar segredo, somos nós dois.

Higor finalmente se pronunciou, tentando aliviar a tensão:
— Leonardo, eu…

— Cala a boca! — cortou ele, sem olhar para Higor. — Isso é entre eu e ela.

Laura deu um passo para frente, mais segura. Aquele era o momento de estabelecer limites.
— Então está entendido. Ninguém fala nada.

Leonardo respirou fundo, passando a mão pelo cabelo, tentando digerir tudo aquilo. A fúria ainda estava lá, mas a consciência de que poderia perder algo maior o fez recuar.
— Tá… — murmurou finalmente. — Mas isso não significa que eu vou esquecer.

Laura assentiu, e Higor deixou escapar um suspiro de alívio, recuando para a porta. O trio permaneceu alguns segundos em silêncio, cada um processando o turbilhão de sentimentos que aquela invasão de privacidade trouxe.

Por um instante, tudo parecia suspenso no tempo. Mas, naquele instante de tensão, Laura sentiu que, ao menos por enquanto, o segredo estava seguro. E que a relação deles, perigosa e proibida, ainda tinha uma chance de existir, contanto que o equilíbrio entre os segredos permanecesse intacto.