Eu nunca tinha visto o Heron tão focado. Depois do encontro com a tal Sabrina, a gente sabia que precisava de mais gente. O plano era bom, mas precisava de especialistas. Heron me disse, com aquela calma que só ele tem: “Não vamos entrar na jaula sem saber como o leão caça, Tadeu. E, para isso, a gente precisa de gente que entenda de jaulas”. Eu não entendia nada de roubo, mas entendia de Heron. E eu sabia que, quando ele falava assim, era para valer. A parte mais difícil não era encontrar as pessoas, mas fazer com que pessoas de mundos tão diferentes trabalhassem juntas.
Heron tinha um talento especial. Ele enxergava potencial nas pessoas onde ninguém mais via. Ele viu em mim a lealdade e a organização que ele precisava para o caos do plano. E foi com essa mesma intuição que ele foi atrás dos outros dois.
O primeiro a ser recrutado foi Gabriel. Encontramos ele em um porão úmido na Zonas Leste de São Paulo, cercado por monitores, fios e computadores. Ele parecia ter uns 18 anos, mas sua mente era de um gênio. Ele usava um capuz e se comunicava por mensagens de texto, mesmo quando estava a um metro de distância. Heron tinha a missão de decifrar o sistema de segurança digital do MASP, e Gabriel era o único que conseguia fazer isso.
— O sistema de segurança do MASP é um labirinto, mas eu já estou nele — Gabriel digitou na tela, sem sequer olhar para a gente.
Heron se sentou ao lado dele.
— Não queremos só navegar. Queremos desativá-lo.
— Ninguém desativa o sistema do MASP. É o topo da segurança digital no Brasil — Gabriel respondeu, ainda sem olhar para eles.
Heron, com sua inteligência e carisma, conseguiu quebrar o gelo. Ele falou sobre os desafios, não sobre o roubo. Ele apelou para o orgulho de Gabriel, para a sua capacidade de resolver o impossível. Depois de horas de conversa, Gabriel finalmente tirou o capuz.
— É loucura. Mas é a loucura mais legal que já me propuseram — ele disse, um sorriso de empolgação em seu rosto.
O segundo era Arthur. Heron o encontrou em um canteiro de obras na Vila Olímpia. Arthur era um engenheiro civil, um homem grande e de poucas palavras, com mãos calejadas de trabalho. Ele era especialista em explosivos e estruturas, e era o único que sabia como abrir o cofre de forma silenciosa e sem danificá-lo.
— Você quer que eu abra um cofre de 20 toneladas? Você está me confundindo com um ladrão — Arthur disse, limpando as mãos com uma toalha suja.
Heron, mais uma vez, usou sua persuasão. Ele não falou de dinheiro ou de fama. Ele falou de engenharia. Falou sobre a beleza de um desafio técnico, de uma peça de engenharia que precisava ser desmontada sem ser destruída. Arthur ouviu em silêncio e, depois de um tempo, apenas assentiu.
A primeira reunião dos quatro foi um desastre. Gabriel, o hacker, não parava de criticar o trabalho manual de Arthur. Arthur, por sua vez, achava a arrogância de Gabriel insuportável. Era como se dois planetas, completamente diferentes, tivessem colidido. A tensão era palpável.
— O sistema digital do cofre é uma piada. Eu posso desligá-lo com um pendrive — Gabriel provocou.
— E de que adianta desligar se você não sabe abrir a porta? Aço e concreto não se resolvem com teclado — Arthur respondeu, com a voz grossa.
Heron interveio, com a calma de um mediador.
— Vocês dois estão certos. Gabriel é o cérebro que vai abrir o caminho. Arthur é a força que vai nos levar para a linha de chegada. Somos um time. E em um time, a gente não compete, a gente se completa.
Heron, o líder nato, o unificador. Ele conseguia ver além dos conflitos e enxergar a complementaridade entre eles. E foi naquele momento que a química do grupo começou a se formar. Eles não eram apenas um grupo de criminosos, mas uma equipe. E a partir daquele dia, eles começaram a trabalhar em sincronia. O plano estava completo, e o time estava pronto.
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