Capítulo 4: O Trabalho em Dupla... Ou Trio?

 Era dia de geografia, e a professora Pilar estava animada para o novo projeto da turma. Ela entrou na sala com sua postura tranquila, mas, mal sabia, o caos estava prestes a começar.

— Pessoal, hoje vamos fazer um projeto especial. Vocês trabalharão em dupla e farão uma apresentação sobre os continentes. Cada dupla vai escolher um continente e apresentar suas características geográficas e culturais.

Antes que ela pudesse terminar a explicação, Guilherme já estava com a mão levantada, praticamente pulando da cadeira.
— Professora, eu posso fazer em dupla com a senhora?

A sala inteira explodiu em risadas, mas Guilherme não se intimidou. Ele sorriu de volta, confiante.
Pilar deu uma risadinha e balançou a cabeça.
— Desculpe, Guilherme, mas você terá que escolher alguém da sua turma para trabalhar com você.

— Ah, mas a senhora é a maior "continente" da sala — murmurou ele para Rafael.
Rafael, segurando o riso, cutucou Guilherme.
— Cara, você tá piorando a cada dia.

Antes que a confusão de duplas começasse, a porta se abriu abruptamente. O diretor Adriano entrou, com aquele ar de seriedade quase teatral. Ele ajeitou a gravata e deu um sorriso nervoso.
— Professora Pilar, ouvi dizer que há um projeto de geografia em andamento... Achei que seria útil oferecer meu apoio para supervisionar o trabalho. Geografia é uma área que, bom, eu domino — disse ele, com um tom de autoridade que não convencia ninguém.

Pilar olhou para Adriano, surpresa, mas sorriu educadamente.
— Oh, diretor, que gentil da sua parte. Mas acho que os alunos podem gerenciar isso... — Ela hesitou, vendo o brilho de determinação nos olhos de Adriano. — Claro, se o senhor quiser observar, fique à vontade.

Adriano, visivelmente satisfeito, puxou uma cadeira e se sentou ao lado de Pilar, quase derrubando um globo terrestre que estava na mesa.
— Perfeito! Posso ajudar com algumas explicações... detalhadas — disse ele, tentando parecer casual, enquanto Guilherme revirava os olhos.

— Então, quem vai falar sobre os continentes? — Pilar perguntou, olhando para os alunos.

— Eu posso falar sobre a Europa, mas só se a senhora me acompanhar até lá um dia! — disse Guilherme, piscando.
A sala explodiu em gargalhadas, e Pilar, tentando manter a seriedade, respondeu:
— Guilherme, foco no projeto, por favor.

Adriano, percebendo que Guilherme estava tentando roubar a atenção, decidiu que era hora de mostrar suas "habilidades geográficas".
— Vocês sabem... os continentes são como os diferentes compartimentos de um coração... Cada um tem sua função, mas todos trabalham juntos para manter o planeta pulsando. — Ele sorriu, satisfeito com sua metáfora.

A sala ficou em silêncio por alguns segundos, até Rafael cochichar para Guilherme:
— O cara tá achando que geografia é cardiologia.

Guilherme não perdeu tempo.
— Diretor, eu acho que o coração de um continente deve bater mais forte quando está perto de uma professora como a Pilar — disse ele, lançando um olhar malicioso para Adriano.

Adriano quase engasgou com a ousadia de Guilherme, mas tentou manter a compostura.
— Bem, eu diria que a geografia é mais... racional. Ela exige precisão, não emoção.

Guilherme olhou para Pilar e disse com um sorriso travesso:
— Professora Pilar, se você fosse um país, eu me mudaria pra você. Sabe, por... proximidade geográfica.

Rafael quase caiu da cadeira de tanto rir, e Pilar, agora visivelmente se divertindo com a situação, balançou a cabeça, tentando manter a aula nos trilhos.
— Certo, certo. Vamos voltar ao projeto, pessoal. Guilherme, eu sugiro que você se concentre em fazer piadas que incluam os continentes de verdade, ok?

Adriano, já suando um pouco de nervosismo, decidiu que precisava recuperar o controle da situação. Ele pegou o globo terrestre na mesa e começou a girá-lo com entusiasmo.
— Vamos começar pela África. Vocês sabiam que a África tem uma biodiversidade tão rica quanto... bom, tão rica quanto a nossa variedade de emoções humanas?

Mais uma vez, o silêncio tomou conta da sala. Pilar olhou para Adriano, com um sorriso gentil, mas claramente confusa.
— Isso é... uma forma interessante de ver a geografia, diretor.

Guilherme não perdeu a chance.
— E falando em emoções, professora, meu coração tem mais biodiversidade quando a senhora tá por perto.

Dessa vez, até Pilar riu. Adriano, vermelho de frustração, tentou ignorar os comentários de Guilherme, mas estava claro que o clima de disputa entre eles só estava esquentando.

No meio dessa guerra de flertes disfarçados de "questões pedagógicas", Pilar respirou fundo, tentando manter a calma. Ela sabia que o projeto de geografia estava se transformando em um campo de batalha de gentilezas exageradas, mas preferiu encarar tudo como mais um desafio do dia a dia escolar.

— Muito bem, pessoal. Foco nos continentes, ok? Temos um projeto para entregar e, por enquanto, a geografia é o que importa.

Mas, no fundo, Pilar sabia que, tanto para Adriano quanto para Guilherme, a geografia era apenas uma desculpa para continuar aquela estranha competição por sua atenção.