Capítulo 4 - A Revelação e a Captura

 Os dias de liberdade foram os mais felizes da vida de Isaura. O medo ainda a assombrava, mas ela permitiu-se sonhar, mesmo que fosse apenas por um breve instante. Com Álvaro, descobriu um mundo que antes lhe parecia impossível: passeios pelas praças floridas, conversas animadas sobre justiça e poesia, promessas de um futuro diferente. Mas o destino, cruel e implacável, não tardou a cobrá-la.

Leôncio, consumido pela obsessão e pela humilhação de tê-la perdido, não descansou até encontrá-la. Movido por um desejo doentio de posse e vingança, contratou capangas e espalhou informantes pelas cidades vizinhas. Sua raiva aumentava a cada dia, e, quando finalmente recebeu a notícia de que Isaura vivia sob um novo nome em uma cidade distante, um sorriso sombrio se formou em seus lábios.

— Então achou que poderia fugir de mim, Isaura? — murmurou, cerrando os punhos. — Pois eu juro que vai se arrepender.

Naquela tarde, Isaura caminhava pelas ruas ensolaradas, sentindo o coração leve ao lado de Álvaro. Ele falava com entusiasmo sobre a possibilidade de acabar com a escravidão no país, e ela o ouvia, encantada, esquecendo-se por um momento do peso de seu passado.

Mas a ilusão durou pouco.

No instante em que cruzaram a praça, Isaura sentiu um arrepio na espinha. Ao olhar para o outro lado da rua, viu um homem de olhar cruel e semblante familiar. O sangue gelou em suas veias. Antes que pudesse reagir, ouviu um grito.

— Peguem-na!

Era tarde demais. Dois homens surgiram das sombras e a agarraram. Isaura tentou lutar, mas seus braços foram torcidos para trás. Ela gritou por ajuda, os olhos suplicantes voltados para Álvaro. Ele correu em sua direção, mas um dos capangas sacou uma arma, forçando-o a parar.

— Soltem-na! — Álvaro ordenou, com os punhos cerrados.

— Não se meta, senhor — respondeu um dos homens. — Essa moça é propriedade do senhor Leôncio. Uma escrava fugitiva.

A praça, antes repleta de risos e conversas, mergulhou no silêncio. Todos olhavam a cena com espanto. Isaura, uma escrava? Como poderia ser?

Álvaro fitou Isaura, confuso.

— Diga que é mentira — sussurrou ele.

Lágrimas brotaram nos olhos dela. O silêncio foi sua resposta.

O choque deu lugar à revolta. Álvaro avançou contra os homens, mas foi contido por transeuntes assustados. Isaura foi arrastada, lançada em uma carroça como um objeto qualquer. O coração dela se despedaçava, mas a última coisa que viu antes de ser levada foi Álvaro, lutando, prometendo:

— Eu vou salvá-la, Isaura! Eu juro!

A viagem de volta para a fazenda foi um tormento. As mãos de Isaura estavam amarradas, seus olhos marejados de desespero. A cada solavanco da carroça, sentia-se mais longe da liberdade, mais perto do inferno.

Ao chegar, Leôncio a aguardava à porta da casa-grande, com um sorriso de triunfo.

— Bem-vinda de volta ao seu verdadeiro lugar, Isaura.

Ela engoliu em seco, sentindo o peso das correntes invisíveis que voltavam a prendê-la.

— Agora — Leôncio continuou, aproximando-se —, não haverá mais fugas, nem ilusões. Você será minha, de um jeito ou de outro. E desta vez, será como minha esposa.

Isaura fechou os olhos, sufocando um soluço. Seu pesadelo estava apenas começando.