Capítulo 4 – Silêncios que machucam

 Os sinais estavam em todo lugar, mas ninguém quis ver. Não porque fossem invisíveis, mas porque era mais fácil ignorá-los.

Eu lembro das mensagens deixadas sem resposta. Uma, duas, dez vezes. O celular na minha mão parecia um peso morto enquanto eu esperava por um simples “oi” que nunca chegava. Cada vez que a tela apagava, era como se ela confirmasse aquilo que eu já sabia: não havia ninguém do outro lado para me escutar. Será que eu era chato demais?

Era como se eu trocasse mensagens com as paredes. Eu escrevia “vamos dar uma volta?”, “quer assistir um filme?”, e o que voltava eram desculpas, justificativas, promessas adiadas. Mas eu não queria promessas, nem justificativas. Eu só queria presença. Era isso. Só isso. E ainda assim, parecia pedir demais.

Até os olhares diziam mais do que palavras. Às vezes eu tentava puxar conversa pessoalmente, mas percebia como desviavam os olhos, como mudavam de assunto rápido, como se minha presença fosse incômoda. Não era preciso que me dissessem nada; o silêncio falava alto demais. E, dentro de mim, esse silêncio era como um grito constante (não exatamente o meu, mas o deles, me dizendo que eu não importava).

E talvez isso tenha sido o que mais doeu: não foi o desprezo direto, não foram palavras duras ou brigas abertas. Foi o vazio. Foi o espaço entre as frases, o tempo sem respostas, o peso daquilo que nunca foi dito. O silêncio deles. Um silêncio que parecia me empurrar cada vez mais fundo.

Hoje percebo que meus gestos já eram despedidas disfarçadas: os convites insistentes, os sorrisos forçados, até o jeito como eu dizia “tá tudo bem” quando não estava. Mas ninguém notou. Ou, se notaram, fingiram não ver. E eu, cansado de esperar, comecei a entender que talvez não houvesse mesmo nada a ser feito.

Talvez o limite tivesse chegado sem que ninguém percebesse. E, no fundo, eu já não tinha forças para avisar de novo. Eu não queria pena de ninguém, eu queria apenas sentir que alguém se importava comigo.