
Nos anos finais de seu pontificado, Papa Francisco enfrentou desafios crescentes, especialmente com sua saúde, mas sua determinação em servir a Igreja e os fiéis permaneceu inabalável. Já na casa dos 80 anos, ele lidava com problemas como dores crônicas no joelho e dificuldades respiratórias, consequências de uma cirurgia pulmonar na juventude. Apesar disso, recusava-se a desacelerar. Continuava celebrando missas diárias na Casa Santa Marta, onde suas homilias, sempre curtas e repletas de histórias do cotidiano, tocavam o coração dos presentes. Ele falava sobre a importância de pequenas gestos, como ouvir um amigo ou ajudar um estranho, e lembrava que a fé é vivida no dia a dia. Mesmo com a mobilidade reduzida, muitas vezes usando uma cadeira de rodas, ele insistia em manter sua agenda, dizendo que “o pastor deve estar com as ovelhas”.
Francisco dedicou seus últimos anos a fortalecer mensagens de paz e fraternidade em um mundo marcado por guerras, desigualdades e crises ambientais. Ele fez viagens apostólicas memoráveis, como a visita à Mongólia em 2023, onde se encontrou com uma pequena comunidade católica e promoveu o diálogo com budistas, e ao Canadá em 2022, onde pediu perdão pelos abusos sofridos por povos indígenas em internatos católicos. Cada viagem era um esforço físico notável, mas ele as encarava como parte de sua missão de levar esperança. Em 2024, mesmo com a saúde fragilizada, visitou o Sudeste Asiático, incluindo a Indonésia e Papua-Nova Guiné, onde defendeu a proteção das florestas e a dignidade dos povos locais. Em todos os lugares, seus gestos – como abraçar uma criança, rezar em silêncio ou lavar os pés de prisioneiros – falavam mais alto que suas palavras.
Dentro da Igreja, Francisco continuou buscando reformas e diálogo. Ele promoveu sínodos, encontros amplos com bispos, leigos e até não católicos, para discutir o futuro da Igreja. O Sínodo sobre a Sinodalidade, concluído em 2024, foi um marco, incentivando uma Igreja mais participativa, onde todos – mulheres, jovens, marginalizados – tivessem voz. Ele também avançou na nomeação de cardeais de regiões periféricas, como Tonga e Haiti, diversificando o Colégio Cardinalício. No entanto, enfrentou resistências. Alguns grupos conservadores criticavam suas posições, como a abertura a divorciados recasados ou a ênfase na misericórdia em vez da doutrina rígida. Outros cobravam respostas mais rápidas para os escândalos de abusos sexuais, embora ele tivesse criado novas leis e comissões para proteger vítimas. Francisco respondia com paciência, dizendo que a Igreja precisava “caminhar junta”, sem medo das tensões.
Fora do Vaticano, ele seguia como uma voz global pela justiça. Continuava condenando a “globalização da indiferença”, termo que usava para criticar a apatia diante de migrantes, pobres e vítimas de conflitos. Ele se reunia com líderes mundiais, como em encontros com o Secretário-Geral da ONU, para discutir mudanças climáticas e paz. Sua encíclica Fratelli Tutti (2020) continuava inspirando iniciativas de solidariedade, e ele apoiava projetos como cozinhas comunitárias e abrigos para sem-teto em Roma. Mesmo em seus últimos meses, ele encontrava tempo para gestos pessoais: escrevia cartas à mão para jovens, telefonava para fiéis que lhe pediam orações e visitava hospitais para confortar doentes. Sua simplicidade permanecia intacta – ele ainda usava sua velha cruz de ferro e preferia refeições simples, como sopa e pão, na companhia de amigos e funcionários.
Francisco também se preocupava em preparar a Igreja para o futuro. Ele incentivava os jovens a assumirem papéis ativos, como viu na Jornada Mundial da Juventude de 2023, em Lisboa, onde pediu que eles “não tenham medo de mudar o mundo”. Ele nomeava bispos alinhados com sua visão de uma Igreja missionária e acolhedora, sabendo que sua liderança não duraria para sempre. Em suas reflexões, falava sobre a morte com serenidade, dizendo que via o fim da vida como “um encontro com Deus”. Mesmo assim, mantinha o bom humor, brincando com jornalistas que perguntavam sobre sua saúde: “Ainda estou vivo, não é?”
No início de 2025, sua saúde piorou visivelmente. Ele reduziu as audiências públicas, mas insistia em manter contato com os fiéis, seja por mensagens gravadas ou breves aparições. Em março, celebrou uma missa na Basílica de São Pedro, visivelmente cansado, mas com um sorriso que transmitia paz. Seus últimos dias foram passados na Casa Santa Marta, cercado por amigos próximos e colaboradores, em um ambiente de oração e tranquilidade. Em 21 de abril de 2025, aos 88 anos, Papa Francisco faleceu discretamente, encerrando um pontificado que marcou a Igreja e o mundo com sua mensagem de amor, humildade e proximidade.