O sol já brilhava alto no céu quando Antonio e Andressa acordaram dentro de uma barraca simples, coberta por tecidos grossos. O cheiro de fumaça e de carne salgada impregnava o ar. A noite anterior havia sido cheia de histórias e descobertas, mas agora estavam prestes a viver um dia inteiro no século XIX.
Andressa foi a primeira a se levantar, esticando os braços e sentindo a rigidez do colchão de palha onde dormira.
— Isso aqui não é nem um pouco confortável… — resmungou, cutucando Antonio, que ainda dormia.
Antonio abriu os olhos devagar, piscando algumas vezes antes de se lembrar de onde estava. Assim que viu a barraca e ouviu os sons do acampamento, arregalou os olhos.
— Então… ainda estamos aqui. Não foi um sonho.
— Nem um pouco. Agora vamos sair antes que alguém ache estranho a gente dormir até tarde.
Ao saírem da barraca, foram surpreendidos por um soldado alto, de olhar severo, que analisou suas roupas com estranhamento.
— Mas o que temos aqui? Dois jovens com trajes estranhos... O que fazem neste acampamento?
Antes que respondessem, Bento Gonçalves apareceu, sorrindo.
— Não se preocupe, Domingos. Os guris estão comigo.
O soldado apenas assentiu e saiu, deixando Antonio e Andressa aliviados.
— Acho que estamos chamando muita atenção… — sussurrou Andressa.
— Precisamos de roupas melhores — completou Antonio.
Bento Gonçalves riu e fez sinal para que o acompanhassem.
— Então venham comigo. Se vão passar um dia conosco, precisam se vestir como farrapos.
Vestindo-se como farrapos
Os irmãos foram levados até uma carroça cheia de roupas e tecidos. Uma senhora idosa, com lenço na cabeça e um vestido simples, os olhou com curiosidade.
— Precisamos vestir esses pequenos como verdadeiros farrapos, dona Maria. Pode ajudá-los?
A mulher sorriu e começou a separar algumas peças. Antonio recebeu uma bombacha larga, uma camisa de algodão e um lenço vermelho para amarrar no pescoço.
— Agora sim, pareço um guerreiro! — disse ele, amarrando o lenço com firmeza.
Andressa recebeu um vestido longo e simples, com um xale de lã para proteger do vento frio.
— Isso é bem diferente do que estou acostumada… — comentou, girando um pouco para sentir o tecido pesado balançar.
— Agora estão prontos! — disse Bento, satisfeito. — Vamos conhecer um pouco mais da nossa vida.
Os costumes e a comida dos farrapos
Bento levou os irmãos até uma área onde soldados e mulheres estavam reunidos ao redor de uma fogueira. Um caldeirão grande borbulhava sobre o fogo, exalando um aroma delicioso.
— Estão com fome?
Antonio e Andressa assentiram, sentindo o estômago roncar. Uma mulher lhes entregou pedaços de charque e um pouco de pirão de farinha de mandioca.
— Isso parece diferente… — comentou Andressa, provando o pirão.
— Mas é bom! — exclamou Antonio, mastigando com gosto.
Bento riu.
— A comida precisa ser simples, mas forte. O charque é nossa principal fonte de proteína.
Depois da refeição, um grupo de homens se reuniu para preparar um chimarrão. Antonio e Andressa observaram enquanto um dos soldados despejava a erva-mate na cuia e completava com água quente.
— Esse é o mate que vocês tomam? — perguntou Antonio.
Bento assentiu.
— O chimarrão é uma tradição antiga, passada de geração em geração.
Andressa recebeu a cuia das mãos de um soldado e provou um gole.
— Está quente!
Todos riram.
— O primeiro gole sempre é o mais forte — disse Bento.
A história de Giuseppe e Anita Garibaldi
Enquanto descansavam sob a sombra de uma árvore, um dos soldados se aproximou e puxou um banco de madeira para sentar-se ao lado deles.
— Já ouviram falar de Giuseppe Garibaldi e Anita Garibaldi?
— Nossa avó já mencionou! — disse Andressa, animada.
— Pois bem, vou lhes contar.
O soldado ajeitou o chapéu e começou:
— Giuseppe Garibaldi é um italiano que veio ao Brasil para lutar ao lado dos farrapos. Aqui, conheceu Anita, uma mulher destemida que se tornou sua companheira na guerra. Juntos, eles enfrentam os imperiais e fogem várias vezes do inimigo.
Antonio e Andressa estavam fascinados.
— Então uma mulher luta ao lado dos soldados? — perguntou Andressa.
— Sim! Anita é tão corajosa quanto qualquer guerreiro. Ela cavalga, atira e luta pela liberdade.
Bento sorriu.
— Ela é uma das maiores heroínas que este país já viu.
O perigo da guerra
De repente, um grito ecoou pelo acampamento.
— Os imperiais estão vindo!
O clima mudou instantaneamente. Soldados correram para pegar armas, cavalos foram preparados, e Bento Gonçalves levantou-se de imediato.
— Fiquem aqui! — ordenou, antes de sair apressado.
Mas Antonio e Andressa não conseguiram ficar parados. Movidos pela curiosidade, se esgueiraram entre as barracas para ver o que estava acontecendo.
No horizonte, um grupo de soldados imperiais se aproximava, marchando em formação. As bandeiras do Império tremulavam ao vento. Os farrapos se posicionaram com espadas e lanças em punho, prontos para defender o acampamento.
Andressa segurou forte o braço de Antonio.
— Isso é real… é perigoso!
Antes que pudessem reagir, um estrondo ecoou pelo campo. Os canhões dos imperiais haviam disparado. O chão tremeu, e a fumaça se espalhou pelo ar.
— Antonio, temos que sair daqui! — gritou Andressa.
Mas era tarde. O caos tomou conta do acampamento. Os gritos de guerra ecoavam, e os cavalos corriam em todas as direções. Antonio segurou a mão da irmã e a puxou para trás de uma barraca caída.
— E agora? O que a gente faz?
— Eu não sei! Mas precisamos achar Bento… ou uma forma de voltar para casa!
Os irmãos estavam no meio de um verdadeiro campo de batalha. E a única coisa que sabiam era que precisavam sair dali… antes que fosse tarde demais.
