Era início da noite quando Gustavo chegou ao hospital. O violão não estava com ele desta vez — só uma garrafa térmica nas mãos e um nervosismo que escorria pelo corpo.
Ficou do lado de fora, debaixo da marquise, esperando Augusto sair do hospital. As luzes frias da recepção refletiam nas vidraças, e as pessoas passavam apressadas, indiferentes à espera de um coração exposto.
Antes, ele havia passado pela praça onde Vitória costumava estar. A encontrou sentada no mesmo banco de sempre, olhando os carros passarem como quem observa o tempo com paciência de quem já apanhou da vida.
— Eu nunca fui bom com finais felizes — ele disse, sentando-se ao lado dela.
Vitória sorriu, com aquele olhar que já sabia das coisas antes mesmo que fossem ditas.
— Então para de fugir e escreve o seu.
Ela pegou dois copos de papel, serviu chá da garrafa que carregava — era o costume dela, o ritual de cada fim de tarde — e brindou com ele, mesmo em silêncio.
— Vai lá, menino. Tá na hora de parar de ensaiar. Se entregue ao amor meu filho. É a única coisa que da sentido a essa vida. Não enrole, não deixe pra amanhã, não espere o momento oportuno. É o agora. Agora, Gustavo!
Augusto saiu do hospital com os ombros curvados e os olhos baixos. Não esperava encontrar Gustavo ali, parado, com a garrafa nas mãos e o coração nos olhos.
— Vim te ver — disse Gustavo, antes que ele passasse direto.
Augusto parou.
— Achei que você fosse fugir de novo.
— Eu errei. Eu sempre erro. — Gustavo sorriu. — Eu tenho um monte de problemas. Mas nenhum deles é você! Tô cansado de fugir. Eu trouxe chá... mas, mais que isso, trouxe coragem.
Augusto não respondeu. O silêncio entre eles era tenso, mas carregado de expectativa.
— Eu sou um caos — continuou Gustavo. — E talvez eu continue sendo. Mas eu quero ser caos com você.
Os olhos de Augusto se encheram, mas ele sorriu, pequeno.
— Eu não quero perfeição, Gustavo. Nunca quis. Só quero que a gente possa escrever a nossa história. Juntos.
Gustavo assentiu, emocionado. Os dois se abraçaram. Um abraço demorado, de quem quase se perdeu, mas chegou a tempo.
O beijo veio depois — não como um final, mas como um recomeço.
Aline, do outro lado da rua, observava. Tinha vindo encontrar o irmão, mas ficou parada quando viu os dois. Por um instante, seu rosto endureceu. Depois, suavizou.
A dor estava ali. Mas também estava a escolha de não ferir mais ninguém — nem a si mesma.
Ela virou-se e foi embora em silêncio.
Na praça, Bruno e Vitória dividiam uma garrafa de chá, rindo de uma piada qualquer. Ele falava com as mãos, ela ouvia com o olhar de quem já viu muito, mas ainda se surpreende com a beleza da vida.
— E aí, Vitória? Você acha que o amor venceu?
— Venceu. Não porque foi fácil, mas porque foi enfrentado.
Bruno sorriu.
— Parece até que você é quem escreveu essa história.
— Talvez eu tenha vivido algumas parecidas — respondeu ela, bebendo mais um gole. — Mas essa aí... foi deles. E que bom que foi.
A noite caiu sobre Curitiba com suavidade. Algumas histórias terminam em silêncio, outras com aplausos.
A de Gustavo e Augusto começava ali, simples e imperfeita. Mas, enfim, assumida.