Capítulo 5 – Chá de Amor

 Era início da noite quando Gustavo chegou ao hospital. O violão não estava com ele desta vez — só uma garrafa térmica nas mãos e um nervosismo que escorria pelo corpo.

Ficou do lado de fora, debaixo da marquise, esperando Augusto sair do hospital. As luzes frias da recepção refletiam nas vidraças, e as pessoas passavam apressadas, indiferentes à espera de um coração exposto.

Antes, ele havia passado pela praça onde Vitória costumava estar. A encontrou sentada no mesmo banco de sempre, olhando os carros passarem como quem observa o tempo com paciência de quem já apanhou da vida.

— Eu nunca fui bom com finais felizes — ele disse, sentando-se ao lado dela.

Vitória sorriu, com aquele olhar que já sabia das coisas antes mesmo que fossem ditas.

— Então para de fugir e escreve o seu.

Ela pegou dois copos de papel, serviu chá da garrafa que carregava — era o costume dela, o ritual de cada fim de tarde — e brindou com ele, mesmo em silêncio.

— Vai lá, menino. Tá na hora de parar de ensaiar. Se entregue ao amor meu filho. É a única coisa que da sentido a essa vida. Não enrole, não deixe pra amanhã, não espere o momento oportuno. É o agora. Agora, Gustavo!


Augusto saiu do hospital com os ombros curvados e os olhos baixos. Não esperava encontrar Gustavo ali, parado, com a garrafa nas mãos e o coração nos olhos.

— Vim te ver — disse Gustavo, antes que ele passasse direto.

Augusto parou.

— Achei que você fosse fugir de novo.

— Eu errei. Eu sempre erro.  Gustavo sorriu.  Eu tenho um monte de problemas. Mas nenhum deles é você! Tô cansado de fugir. Eu trouxe chá... mas, mais que isso, trouxe coragem.

Augusto não respondeu. O silêncio entre eles era tenso, mas carregado de expectativa.

— Eu sou um caos — continuou Gustavo. — E talvez eu continue sendo. Mas eu quero ser caos com você.

Os olhos de Augusto se encheram, mas ele sorriu, pequeno.

— Eu não quero perfeição, Gustavo. Nunca quis. Só quero que a gente possa escrever a nossa história. Juntos.

Gustavo assentiu, emocionado. Os dois se abraçaram. Um abraço demorado, de quem quase se perdeu, mas chegou a tempo.

O beijo veio depois — não como um final, mas como um recomeço.


Aline, do outro lado da rua, observava. Tinha vindo encontrar o irmão, mas ficou parada quando viu os dois. Por um instante, seu rosto endureceu. Depois, suavizou.

A dor estava ali. Mas também estava a escolha de não ferir mais ninguém — nem a si mesma.

Ela virou-se e foi embora em silêncio.


Na praça, Bruno e Vitória dividiam uma garrafa de chá, rindo de uma piada qualquer. Ele falava com as mãos, ela ouvia com o olhar de quem já viu muito, mas ainda se surpreende com a beleza da vida.

— E aí, Vitória? Você acha que o amor venceu?

— Venceu. Não porque foi fácil, mas porque foi enfrentado.

Bruno sorriu.

— Parece até que você é quem escreveu essa história.

— Talvez eu tenha vivido algumas parecidas — respondeu ela, bebendo mais um gole. — Mas essa aí... foi deles. E que bom que foi.


A noite caiu sobre Curitiba com suavidade. Algumas histórias terminam em silêncio, outras com aplausos.

A de Gustavo e Augusto começava ali, simples e imperfeita. Mas, enfim, assumida.