Capítulo 5 - De Volta Para Casa

O barulho dos disparos e o cheiro de pólvora ainda pairavam no ar. Antonio e Andressa continuavam escondidos atrás da barraca caída, os corações disparados de medo. O caos da batalha ao redor deles era intenso, e a única coisa que desejavam naquele momento era voltar para casa.

— Antonio, precisamos sair daqui! — Andressa sussurrou, apertando o braço do irmão.

— Mas como? Estamos no meio de uma guerra!

Antes que pudessem se mover, uma voz familiar soou atrás deles.

— Guris, venham comigo!

Eles se viraram e viram Bento Gonçalves, que os conduziu rapidamente para um lugar mais seguro, afastado do combate. Quando chegaram a um pequeno abrigo improvisado, ele os olhou com seriedade.

— Vocês já viram o que queriam ver. Agora precisam partir.

Antonio e Andressa se entreolharam, confusos.

— Mas… como voltamos? — perguntou Antonio.

Bento suspirou e colocou as mãos nos ombros das crianças.

— A história é como o fogo de um braseiro: se ninguém a mantém acesa, ela se apaga. Vocês tiveram a chance de viver um pedaço do passado. Agora, devem garantir que ele nunca seja esquecido.

— Mas somos apenas crianças… — disse Andressa, hesitante.

Bento sorriu.

— Crianças crescem e se tornam aqueles que mantêm viva a memória do povo. Vocês voltaram ao século XIX porque a história de seus antepassados chamou por vocês. Agora, levem essa história adiante.

Antes que pudessem responder, um vento forte começou a soprar ao redor deles. A visão ficou turva, e tudo começou a girar. Antonio e Andressa sentiram como se estivessem sendo puxados por uma força invisível.

— O que está acontecendo?! — gritou Antonio.

A última coisa que viram foi Bento Gonçalves sorrindo e dizendo:

— Nunca deixem sua história ser esquecida.

De volta ao sótão

De repente, tudo ficou em silêncio. O cheiro de pólvora e fumaça desapareceu. O barulho da guerra sumiu. Quando abriram os olhos, estavam novamente no sótão da casa da avó Tina.

Andressa respirou fundo e olhou ao redor. O baú ainda estava aberto, as cartas e a bandeira do Rio Grande do Sul estavam exatamente onde os haviam encontrado.

— Antonio… isso foi real? — ela perguntou, com a voz trêmula.

Antonio pegou uma das cartas amareladas pelo tempo e leu em voz alta um trecho que falava sobre os farrapos e Bento Gonçalves.

— Foi real, sim. Olha isso!

Ele puxou a bandeira do baú e percebeu algo que não estava lá antes: um lenço vermelho dobrado ao lado dos papéis.

— O lenço… é o mesmo que o Bento me deu!

Os dois se entreolharam, sentindo um arrepio percorrer seus corpos.

Uma promessa para o futuro

Os irmãos desceram correndo as escadas do sótão e encontraram a avó Tina sentada na sala, costurando.

— Onde vocês estavam? — ela perguntou, levantando os olhos da costura.

Antonio e Andressa se entreolharam, sem saber por onde começar.

— Vó… nós viajamos no tempo! Fomos parar no meio da Revolução Farroupilha! — exclamou Andressa.

Tina sorriu e balançou a cabeça.

— Ah, então vocês descobriram os segredos do nosso baú?

Antonio arregalou os olhos.

— Você sabia?!

A avó riu baixinho.

— Eu sempre soube que a história tem um jeito especial de chamar aqueles que querem ouvi-la.

Andressa segurou a bandeira dobrada com carinho.

— Vó, queremos aprender mais sobre o Rio Grande do Sul. Queremos contar essa história para outras crianças!

Tina sorriu com orgulho.

— Então vocês já entenderam a lição mais importante. Nosso passado precisa ser lembrado para que nunca se apague.

Os irmãos se sentaram ao lado da avó, ansiosos para ouvir mais histórias. Agora, sabiam que a história não era apenas algo dos livros — era viva, pulsante, e cabia a eles compartilhá-la com o mundo.

E assim, Antonio e Andressa fizeram uma promessa: jamais deixariam sua história ser esquecida.