Capítulo 5: Escapando das Sombras

 A loja era pequena, uma espécie de bodega, mas parecia um refúgio em meio ao caos que dominava as ruas. Assim que Adauto empurrou a porta e puxou a família para dentro, uma onda de alívio percorreu seu corpo. A sensação de segurança, no entanto, era efêmera. O que deveria ser um abrigo rapidamente se transformou em um lugar de tensão e desespero.

Do lado de fora, o cenário era devastador. O ar estava carregado de fumaça e poeira, e os gritos ainda ecoavam como um eco distante. Adauto olhou pela janela e viu pessoas cobertas de cinzas, algumas com ferimentos visíveis, outras paradas, em estado de choque, sem saber para onde ir. O terror era palpável, e a realidade do que estava acontecendo começava a se estabelecer em sua mente.

— O que vamos fazer agora, papai? — perguntou Briana, a voz tremendo enquanto se aninhava ao lado da mãe. Os olhos dela estavam cheios de lágrimas, e Adauto sentia seu coração se apertar.

— Precisamos ficar juntos e esperar aqui por um tempo — respondeu ele, tentando manter a calma. Mas a verdade é que ele mesmo estava se sentindo cada vez mais sobrecarregado, lutando para encontrar uma solução em meio à confusão. O peso da responsabilidade o oprimia, e a sensação de impotência crescia a cada instante.

Barbara, ao seu lado, estava inicialmente tão emotiva quanto as crianças. Mas à medida que a situação se tornava mais caótica, ela começou a tomar decisões rápidas.

— Adauto, precisamos fazer algo! Não podemos ficar aqui para sempre — disse ela, seu tom agora mais firme. Ela olhou pela janela, a expressão determinada. — As pessoas estão correndo, e elas parecem estar indo em direção à ponte. Devemos tentar sair da cidade.

Adauto hesitou, sentindo a pressão se intensificar. A ideia de sair para as ruas novamente o deixava ansioso. Ele queria manter sua família a salvo, mas também entendia que ficar ali poderia ser perigoso.

— Mas e se houver mais ataques? — ele perguntou, seu tom preocupado. — Não podemos arriscar isso.

— O que mais podemos fazer? — retorquiu Barbara, os olhos ardendo com uma determinação renovada. — Ficar aqui não é uma opção. Precisamos nos mover, precisamos escapar das sombras desse lugar.

Briana, ouvindo a conversa, olhou para os pais com os olhos arregalados, a inocência dela sendo desafiada de uma maneira que ela nunca poderia imaginar. August, com a mão firmemente entrelaçada na de sua mãe, tentou ser forte.

— Vamos, papai! — ele disse, olhando nos olhos de Adauto. — Nós precisamos ir!

As palavras de August foram um chamado à ação. Adauto sentiu uma onda de orgulho misturada com o medo. Seu filho estava tentando ser corajoso, e isso o inspirou a agir. Ele olhou para Barbara, que ainda parecia determinada a encontrar uma saída.

— Tudo bem — disse Adauto, respirando fundo e tentando afastar a sensação de pânico que se instalava em seu peito. — Vamos encontrar um caminho para a ponte.

A família se posicionou próxima à porta, o barulho do caos do lado de fora crescendo a cada segundo. Adauto lançou um último olhar pela janela, onde o horror se desdobrava. Ele sabia que sair era arriscado, mas a ideia de ficar ali, à mercê do que estava acontecendo, era insuportável.

Barbara segurou a mão de Briana, olhando nos olhos da filha, tentando transmitir uma sensação de segurança que ela própria não sentia.

— Vamos juntos, tá? — ela disse suavemente. — Você é forte, minha pequena.

Adauto abriu a porta lentamente, e o ar frio e denso da cidade os envolveu. As ruas estavam cheias de pessoas, algumas correndo, outras paradas, e a visão da destruição ainda era chocante.

— Mantenham-se próximos! — Adauto gritou, sua voz firme, apesar da incerteza que sentia. Ele puxou Briana e August para mais perto, sentindo a mão de Barbara ao seu lado.

Enquanto caminhavam, o medo parecia crescer a cada passo. A multidão empurrava e puxava, mas eles se mantinham unidos. Adauto tentava focar na segurança de sua família, lembrando-se das palavras que prometeu a si mesmo: “Estamos juntos, e isso é o que importa”.

O caminho para a ponte parecia longe, mas a esperança de escapar das sombras da tragédia os motivava. A cada momento, Adauto tentava afastar o peso da culpa e da impotência que o consumia. Ele sabia que a luta estava apenas começando, mas, enquanto caminhassem juntos, ele teria fé de que poderiam encontrar uma saída.

A cidade que ele sonhara em conhecer agora estava se desmoronando, mas a determinação de manter sua família a salvo era mais forte do que o caos ao seu redor. Ele seguiu em frente, cada passo uma promessa de proteção, cada movimento um ato de amor em meio à escuridão.