Capítulo 5 - Liberdade e Justiça

 

Os dias na fazenda Almeida eram um tormento sem fim. Leôncio, em sua arrogância cruel, regozijava-se com o retorno de Isaura e insistia que ela se tornaria sua esposa. No entanto, ela resistia com todas as forças. Mantinha-se firme, recusando-se a ceder à tirania daquele homem que a via apenas como um objeto de desejo e posse.

— Você pode me prender aqui, mas nunca terá minha vontade — disse Isaura, fitando-o com desprezo.

Leôncio riu, mas havia fúria em seus olhos.

— Veremos por quanto tempo conseguirá me desafiar, Isaura.

Enquanto isso, longe dali, Álvaro não descansava. A revelação de que Isaura era uma escrava fugitiva o chocara, mas sua admiração por ela só crescera. Ele compreendia agora o porquê de seu olhar melancólico, de seu receio em confiar plenamente. E, acima de tudo, compreendia que não podia abandoná-la.

Usando sua influência e conhecimento da lei, Álvaro reuniu aliados poderosos. Entre eles, juízes abolicionistas, advogados respeitados e políticos contrários à escravidão. Pesquisando os documentos da fazenda Almeida, encontrou algo que poderia mudar tudo: o testamento do falecido Comendador Almeida, que mencionava a intenção de conceder a alforria a Isaura. Leôncio, por ganância e crueldade, ignorara o desejo do pai.

Álvaro levou o caso à justiça. O processo foi longo, mas a pressão da sociedade aumentava. Os jornais começaram a relatar a história da jovem escrava injustamente mantida em cativeiro. A indignação cresceu, e Leôncio viu-se cercado por olhares acusadores.

Quando os oficiais chegaram à fazenda, Isaura ouviu os cavalos se aproximando. Seu coração acelerou. Do alto da varanda, Leôncio assistia à cena, pálido.

— O que significa isso?! — rugiu ele.

Álvaro desceu do cavalo e caminhou até a entrada.

— Significa que sua farsa acabou, Leôncio. A justiça foi feita.

O oficial leu o decreto em voz alta: Isaura estava legalmente livre. Leôncio não tinha mais direitos sobre ela. O desespero estampou-se no rosto do fazendeiro. Tudo lhe escapava pelos dedos.

— Não! Isso é uma conspiração! — bradou, tentando agarrar Isaura pelo braço.

Mas ela se afastou. Pela primeira vez, olhou-o sem medo.

— Você nunca teve poder sobre minha alma, Leôncio. Agora, não tem mais poder sobre meu corpo também.

Ele gritou, furioso. Correu para dentro da casa, e pouco tempo depois, ouviram-se ecos de sua ruína. Leôncio, endividado, abandonado e humilhado, não viu mais sentido em continuar. Seu destino foi o de muitos que vivem da opressão: a decadência inevitável.

Isaura, por sua vez, caminhou em direção à liberdade. Seus olhos encontraram os de Álvaro, cheios de ternura e esperança.

— Você está livre, Isaura — ele sussurrou.

Ela sorriu, e pela primeira vez, sentiu-se leve. Não era apenas a liberdade do corpo, mas também a do coração.

Juntos, partiram para uma nova vida. Isaura não era mais uma escrava. Era uma mulher com um futuro, com escolhas. E, acima de tudo, com o direito de amar e ser amada.

A justiça prevalecera. O sofrimento terminara. E a esperança, enfim, brilhava no horizonte.