Capítulo 5 - O Gosto Amargo do Ouro

CAPÍTULO 5

 O sol começava a manchar o horizonte de Curitiba com tons de rosa pálido e laranja. A música na cobertura havia diminuído para um zumbido distante, e a maioria dos convidados já tinha partido, deixando para trás um rastro de taças quebradas e cinzas caras. Luciano emergiu do corredor do banheiro, as roupas amassadas e o cheiro de sabonete caro substituindo o odor de suor e drogas. Ele parecia um viajante do tempo, deslocado entre a noite que se findava e o dia que nascia.

Ele encontrou Arthur, o anfitrião, em uma área mais tranquila da varanda, observando a cidade acordar. Arthur parecia tão impecável quanto no início da noite, talvez apenas com um cansaço sutil nos olhos.

— Ah, aí está você, meu garoto do interior — Arthur sorriu, mas o sorriso não tinha a mesma efervescência de antes. — Gostou da experiência?

Luciano sentiu um nó na garganta. Ele havia gostado? A festa foi o melhor e o pior momento da sua vida.

— Foi... inesquecível, Arthur. Eu nunca imaginei nada assim.

— E é exatamente por isso que é importante. Você precisava ver que existe mais do que o seu pequeno mundo. Precisava ver a liberdade, a fluidez, a falta de julgamento — Arthur se virou, a postura elegante e imponente. — A vida é uma troca, Luciano.

Arthur colocou a mão no bolso interno de seu paletó e retirou um envelope branco, grosso e pesado.

— Você foi um convidado excelente. É bonito, puro e sua surpresa foi genuína. Isso tem valor, sabia?

Ele estendeu o envelope a Luciano. O jovem hesitou, a mão tremendo ligeiramente.

— O que é isso?

— É um presente. Pela sua presença. Pela sua contribuição à nossa diversão. E, talvez, para pagar o seu próximo banho quente — Arthur deu uma risada baixa. — Não se preocupe. Não é esmola, é gratificação. O custo da experiência.

Luciano abriu o envelope. Dentro, havia uma quantia significativa de dinheiro, notas novas e empilhadas. Era mais do que ele ganhava em meses de trabalho na sua cidade. O choque foi tão grande quanto o momento em que Sofia o havia tocado. O luxo tinha um preço, e ele acabara de ser pago por vivê-lo.

— Eu... — ele tentou falar, mas a palavra morreu na garganta.

— Não precisa dizer nada. Vá para casa, Luciano. Pense no que você viu e no que você sentiu. Não se sinta culpado por querer mais, nem se sinta um impostor. Você participou.

Gabriel surgiu na porta, vestindo óculos escuros e com uma mochila de couro nas costas. Ele acenou brevemente para Luciano, um adeus que parecia carregar tanto um aviso quanto uma lembrança.

— Tchau, Lu. Pense no que te disse.

Luciano apertou o envelope e a toalha de banho que havia trazido consigo sem perceber.

— Adeus, Arthur.

Ele desceu o elevador panorâmico em silêncio, a luz do sol batendo na sua cara. As ruas de Curitiba já estavam cheias de carros e pessoas indo trabalhar, um mundo normal que parecia não ter sido atingido pela orgia da noite.

Na rua, o mesmo Uber Black, ou um idêntico, o esperava. Ele entrou, deu o endereço da pensão e recostou-se no couro macio. O adolescente humilde que havia entrado naquele carro na noite anterior havia morrido na cobertura. O novo Luciano, exausto, com a boca seca, o corpo dolorido, mas com a sensação de ter tido sua alma expandida e um maço de notas no bolso, olhava pela janela.

Ele havia tomado o chuveiro a gás dos ricos e se sentido livre. Ele havia experimentado o excesso, a atração sem limites e o dinheiro fácil. Ele voltou ao ponto de partida, mas a jornada o havia transformado para sempre, deixando-o com o gosto agridoce do ouro e a certeza perturbadora de que, a partir daquele dia, ele pertenceria a nenhum lugar.