O dia que Ana Júlia escolheu para enfrentar a verdade amanheceu cinzento, espelhando o humor das amigas. O plano estava traçado. Elas se encontrariam na casa de Ana Júlia, e as três iriam juntas à sala de estar para dar a notícia ao vice-prefeito e à sua esposa, Maria. Era uma missão impossível, mas a união lhes dava uma coragem que nenhuma delas possuía sozinha. O plano era tão assustador quanto necessário, mas a decisão final era inabalável.
Ana Júlia estava a poucos minutos de sair de casa, o celular na mão, prestes a mandar a mensagem para as amigas, quando a tela se iluminou com uma ligação. Era um número desconhecido, mas ela atendeu. Do outro lado da linha, uma voz que ela reconheceu imediatamente, a voz da Dra. Camila, a médica da clínica.
— Ana Júlia, sou eu, a Dra. Camila. Preciso que você volte ao consultório. É urgente. — A voz da médica era baixa, mas carregada de uma apreensão que fez o coração de Ana Júlia disparar.
— O que aconteceu, doutora? — Ana Júlia perguntou, sentindo um arrepio na espinha. O tom da voz dela era um misto de medo e desespero.
— Não posso falar por telefone. Venha o mais rápido possível. E se puder, traga suas amigas.
Confusa e com a respiração ofegante, Ana Júlia ligou para Ana Catarina e Ana Beatriz, que chegaram à sua casa em questão de minutos. As três se olharam, sem entender. O plano de contar a verdade aos pais de Ana Júlia foi adiado. A ansiedade era grande, mas a curiosidade e o medo do que a médica tinha a dizer era maior.
Elas chegaram à clínica e a Dra. Camila as aguardava na recepção. O rosto da médica estava pálido e sério. Ela as conduziu para dentro do consultório, fechando a porta com cuidado.
— Meninas, eu chamei vocês aqui porque houve um erro. Um erro gravíssimo. — A voz da médica era suave, mas os olhos revelavam sua preocupação. — Lembra do teste de farmácia, Ana Júlia? Embora seja um bom indicativo, ele pode apresentar falsos positivos devido a alguns fatores, como um problema na fabricação ou até mesmo a presença de certas medicações no organismo.
As amigas se entreolharam, confusas. O choque inicial de que o teste de farmácia poderia estar errado se misturou com a apreensão da situação.
— No laboratório, a amostra de sangue de Ana Júlia foi trocada. — A Dra. Camila continuou, com a voz embargada pela emoção. — O exame que vocês viram não era o dela. A paciente que fez o exame junto com você, Ana Júlia, se chama Ana Paula, e o resultado positivo era dela.
O mundo delas parou. Um silêncio ensurdecedor preencheu a sala. O tempo parecia se estender.
— Então... eu não estou grávida? — Ana Júlia sussurrou, a voz quase inaudível.
— Não, Ana Júlia. Você não está grávida. — A médica respondeu, a voz cheia de alívio.
A notícia, que deveria ser um simples "não", trouxe consigo uma força indescritível. O alívio imediato e incontrolável tomou conta delas. As lágrimas de desespero se transformaram em lágrimas de felicidade. Ana Júlia desabou em choro, não mais de medo, mas de uma gratidão profunda. Ana Catarina e Ana Beatriz a abraçaram, e as três se uniram em um abraço coletivo, chorando e rindo ao mesmo tempo. Era uma catarse. A montanha-russa de emoções, que durou semanas, finalmente chegava ao fim.
Quando as lágrimas cessaram, a reflexão tomou conta do momento. A experiência, embora baseada em um engano, revelou a fragilidade de suas vidas e a importância de se protegerem. A Dra. Camila, percebendo a mudança na atmosfera, aproveitou para reforçar a lição.
— Esse susto que vocês levaram, por mais doloroso que tenha sido, serve como um lembrete. A educação sexual e o uso de preservativos são a única maneira de se proteger. O risco não está em um ambiente ou em outro. Ele está na falta de informação e na ausência de cuidado.
As garotas saíram da clínica em silêncio. O peso que carregavam nos ombros havia sumido, mas a lição havia permanecido. O conflito que parecia uma montanha intransponível, desmoronou. A história, que parecia ser um fim, se tornou um recomeço. As três amigas, agora mais maduras e conscientes, entenderam que não importa a criação, a classe social ou as crenças: a prevenção é a única saída para evitar uma gravidez e doenças sexualmente transmissíveis. Elas sabiam que a vida as colocara em um teste, e, mesmo que o resultado final fosse nulo, elas tinham sido aprovadas. A amizade delas, fortalecida pelo medo e pela união, era a prova de que juntas, poderiam superar qualquer desafio.