Capítulo 5: O plano mestre


CAPÍTULO 5


 O galpão na Mooca era uma bagunça de fios, computadores, e réplicas de painéis de segurança. Era o nosso laboratório, o nosso palco. Heron estava de pé em frente a um enorme quadro branco, com um sorriso de satisfação. Ele olhava para o nosso “plano mestre”, meticulosamente desenhado. Eu olhava para ele, e a única coisa que conseguia pensar era: “como é que a gente chegou até aqui?”. Aquele cara, que há alguns meses estava reclamando de empregos de meio período, agora era um estrategista, um líder nato.

— O evento é uma gala de caridade, com centenas de convidados de alto nível. E o melhor de tudo: é uma quinta-feira.

Gabriel, sentado em uma cadeira, digitava no computador.

— A Ocean Blue está em uma sala especial. O cofre dela, por sua vez, tem um sistema de segurança autônomo, não está conectado com o resto do museu. A Sabrina deu a letra, e eu confirmei. Não há como invadir o sistema central e desligar o cofre.

Heron sorriu, um sorriso que eu já conhecia, de quem tem a resposta na ponta da língua.

— A gente não vai precisar. A gente vai criar um desvio. Artur, o que você faria com um sistema de combate a incêndio?

Arthur se aproximou do quadro, com as mãos na cintura.

— Em um evento grande, com muita gente, qualquer coisa que saia do script é um caos. Se o alarme de incêndio for acionado, as portas de emergência se abrem.

— Exato. A gente vai acionar o alarme de incêndio no segundo andar. Isso vai levar a segurança do museu para lá, criando uma distração. E mais: vai abrir as portas de emergência, que são o nosso ponto de entrada. Gabriel?

— Eu vou acionar o alarme de incêndio de forma remota, em uma frequência que não pode ser rastreada. Vai parecer um erro no sistema do museu, não uma invasão. Eu consigo fazer isso com um laptop e um transceptor de rádio.

Heron olhou para nós, um por um.

— Enquanto o caos acontece, a gente entra pela porta de emergência. A partir daí, é com a gente. Eu e Tadeu.

— E qual é o seu plano? — eu perguntei, sentindo a adrenalina aumentar.

— A gente não vai para a Ocean Blue. A gente vai para a sala do gerador. A gente vai desligar o gerador. Isso vai causar um blecaute na sala da joia, e vai acionar as travas de emergência do cofre.

— Mas aí o cofre fica trancado, não é? — Arthur perguntou, confuso.

— Sim. Mas o sistema do cofre não é um sistema de bloqueio, é um sistema de proteção. Quando o cofre for desligado, ele vai acionar uma trava de segurança que é mecânica, e não digital. E é aí que você entra, Arthur. Você vai ter 30 segundos para desativá-la.

Heron desenhou no quadro o esquema do cofre.

— A trava de segurança é ativada por um sensor de pressão. Se a pressão for reduzida, a trava é desativada. E para reduzir a pressão, precisamos de uma pequena carga explosiva.

Arthur sorriu, pela primeira vez no dia.

— Eu posso criar uma carga minúscula, do tamanho de um grão de arroz. Vai ser silencioso, e não vai danificar a estrutura do cofre.

— E eu vou ser a distração, certo? — eu perguntei.

Heron me olhou nos olhos.

— Não. Você vai ser o meu backup. Se algo der errado, se a gente não conseguir desativar a trava a tempo, você é a minha rota de fuga.

Heron, o gênio do planejamento, havia pensado em tudo. Em cada detalhe, em cada imprevisto. Ele sabia que o mais importante não era o plano principal, mas os planos de contingência.

O ensaio, com as maquetes do museu, foi intenso. A gente simulou o tempo, os movimentos, a reação do time de segurança. Heron era o maestro, conduzindo cada um com precisão. O que eu sentia, além do medo e da empolgação, era um orgulho imenso de ser amigo daquele cara. Ele era mais do que um gênio, era um visionário. E eu estava ali, ao lado dele, para ver tudo acontecer.