Capítulo 5 - O porão revelado

 O cheiro foi a primeira coisa a atingi-los, violento e nauseante: uma mistura espessa de mofo antigo, terra úmida e algo mais, algo que Maria Joana preferiu não identificar. O ar que subiu do buraco era frio e denso, como se viesse de outro tempo.

Ao forçarem o painel de madeira para o lado, a abertura revelou não o porão diretamente, mas uma porta de madeira maciça, mal encaixada na fundação da casa. Ela estava praticamente invisível, disfarçada com tanta perícia que parecia parte do piso estrutural.

Miguel, agora, não era mais o homem cético. Ele estava à beira do colapso, seus olhos fixos na entrada escura. O terror havia substituído completamente sua lógica. Ele agarrou o braço de Maria Joana com força, puxando-a para trás.

— Não! Esquece isso, Maria Joana! Vamos sair daqui, AGORA! — ele implorou, sua voz era um sussurro rouco e desesperado, quebrando o silêncio da noite. — Nós encontramos o que a planta dizia não existir. É o suficiente! Nós vamos chamar a polícia, eles que lidem com isso.

Maria Joana se desvencilhou do aperto dele, determinada. Ela olhou para a escuridão e, em sua mente, viu as mensagens de Elisa, as súplicas por libertação, o medo que ecoava do porão.

— Eu não posso ir embora, Miguel. Eu tenho que fazer isso. — ela respondeu, a voz surpreendentemente firme. — Ela precisa de ajuda. Se fugirmos agora, ela vai continuar presa, e nós vamos carregar a culpa. Nós a encontramos.

Maria Joana pegou a lanterna que havia deixado cair e a apontou para a porta escondida. Ignorando o medo paralisante de Miguel, ela forçou a porta de alçapão com as duas mãos. A madeira rangeu em protesto, e então se ergueu, revelando uma escada íngreme e instável, mergulhando na escuridão mais profunda.

O feixe da lanterna desceu, revelando um porão pequeno, claustrofóbico e imundo. As paredes eram de pedra bruta, e a umidade escorria livremente. O lugar parecia ter sido projetado para prender, não para armazenar.

Lentamente, Maria Joana desceu o primeiro degrau. Miguel estava parado no topo, ofegante, incapaz de segui-la, mas também incapaz de abandoná-la.

No fundo do porão, na parede oposta ao pé da escada, a luz fraca da lanterna se fixou em algo. Não era um corpo físico, mas uma silhueta translúcida e etérea, de um branco fantasmagórico. Era a figura de uma mulher, curvada, e parecia presa. Correntes escuras e espectrais estavam visivelmente presas em seus pulsos e tornozelos, ligando-a à pedra.

Era Elisa, exatamente onde ela havia dito que estaria. Uma figura de dor e sofrimento, esperando a única pessoa que se atreveria a descer e libertá-la.

Maria Joana sentiu um nó na garganta, mas continuou descendo. Ela tinha vindo até ali para libertar aquele espírito acorrentado.