O hospital estava silencioso naquela manhã. A cirurgia de Kaio havia terminado depois de horas de tensão. Renan, ainda grogue pela anestesia, permanecia em um quarto ao lado, em recuperação. Já Kaio, pálido, abriu lentamente os olhos, sentindo o corpo fraco, mas vivo.
Renan entrou mais tarde, empurrado em uma cadeira de rodas, insistindo com a enfermeira que queria ver o amigo. Quando seus olhares se encontraram, um silêncio cheio de significado tomou conta do quarto.
Kaio apertou a mão dele com força, as lágrimas escorrendo.
— Você salvou minha vida, irmão... — disse Kaio, com a voz embargada. — Eu não sei nem como agradecer.
Renan sorriu, emocionado.
— Não precisa agradecer. A gente sempre disse que era irmão, não disse? Só fiz o que qualquer irmão faria.
— Mas você abriu mão de uma parte de você... por mim. Isso eu nunca vou esquecer.
— E eu nunca ia me perdoar se te perdesse.
Os dois choraram juntos, e aquele momento selou para sempre a amizade que tinham construído desde meninos.
Enquanto isso, em outro ponto da cidade, Gabriel finalmente criou coragem para procurar Raíssa. Eles se encontraram em frente a uma cafeteria, o clima tenso pairando no ar. Raíssa cruzou os braços, esperando que ele falasse.
— Eu preciso ser honesto — começou Gabriel, tentando manter a voz firme. — João Pedro é quem me faz bem agora. Eu não quero alguém que me faça mal, Raíssa.
Ela desviou o olhar, ferida pelas palavras.
— Então é isso... você escolheu ele.
— Não é sobre escolher ele contra você. É sobre escolher o que me deixa em paz. E eu não sinto isso com você.
— Eu te amei, Gabriel — disse ela, com os olhos marejados. — Mas parece que nunca foi suficiente.
Ela se levantou, respirou fundo e se afastou sem olhar para trás. Gabriel ficou parado por alguns segundos, sentindo a dor da despedida, mas também um alívio por finalmente ter sido sincero.
Mais tarde, no hospital, ele encontrou João Pedro esperando por notícias de Renan e Kaio. Ao ver Gabriel se aproximar, João Pedro sorriu de leve.
— E aí... conseguiu resolver as coisas?
— Consegui. Foi difícil, mas necessário.
— Então agora você tá livre pra ser quem você é. Sem amarras.
Gabriel assentiu, e os dois saíram juntos para caminhar pelo jardim do hospital. Conversavam sobre o futuro, riam de pequenas bobagens, e cada passo parecia reforçar a certeza de que, às vezes, a amizade é o verdadeiro amor da vida.
No quarto, Renan e Kaio descansavam lado a lado, ainda fracos, mas unidos por algo maior que qualquer palavra.
— Agora a gente tem duas vidas, né? — brincou Kaio, tentando arrancar um sorriso do amigo.
— Duas vidas, uma só amizade — respondeu Renan, rindo baixo.
Do lado de fora, Gabriel e João Pedro caminhavam devagar, lado a lado, sem pressa. Não eram namorados. Eram simplesmente dois amigos que se encontraram no momento certo, assim como Renan e Kaio haviam descoberto que o valor verdadeiro da vida estava no laço inquebrável da amizade.
E naquele fim de tarde, entre risadas, cicatrizes e novos começos, todos entenderam o que realmente valia a pena: estar ao lado de quem te faz bem.
Fim.