
A pandemia da Covid-19 foi uma das maiores tragédias da história recente do Brasil. Quando os números finais começaram a ser contabilizados, o país registrava cerca de 700 mil mortes até o final de 2022, um número que o colocava entre os mais afetados do mundo. Cada uma dessas mortes era mais do que uma estatística — era uma vida interrompida, uma família em luto, uma história que não pôde ser concluída. Mas, ao refletirmos sobre essa crise, fica claro que o Brasil enfrentou não apenas um vírus biológico, o SARS-CoV-2, mas também um "vírus" político, personificado na figura de Jair Bolsonaro. A negligência, a desinformação e a falta de empatia do ex-presidente foram tão devastadoras quanto a própria pandemia, deixando um legado de dor, mas também de lições. Este capítulo é uma reflexão sobre o que vivemos, o que perdemos e o que podemos aprender para construir um futuro melhor.
Os números da pandemia no Brasil são um testemunho do impacto devastador da crise. Até o final de 2022, as 700 mil mortes registradas colocavam o Brasil como o segundo país com mais óbitos no mundo, atrás apenas dos Estados Unidos. Mas o que torna esses números ainda mais trágicos é a estimativa de especialistas de que muitas dessas mortes poderiam ter sido evitadas. Durante a CPI da Covid, em 2021, o epidemiologista Pedro Hallal, da Universidade Federal de Pelotas, afirmou que cerca de 400 mil das 500 mil mortes até junho daquele ano poderiam ter sido prevenidas com uma gestão mais eficiente. Isso significa que, das 700 mil vidas perdidas até o final de 2022, mais da metade poderia estar viva se o Brasil tivesse priorizado a ciência, a coordenação nacional e a empatia. O atraso na compra de vacinas, a promoção de tratamentos ineficazes como a hidroxicloroquina e a recusa em adotar medidas de isolamento social foram escolhas políticas que custaram caro.
A negligência de Bolsonaro não passou despercebida no cenário internacional. Em 2021, o Tribunal Permanente dos Povos, uma corte simbólica que julga crimes contra a humanidade, considerou a conduta do ex-presidente durante a pandemia como um "crime contra a humanidade". O tribunal apontou que a desinformação promovida por Bolsonaro, como suas falas minimizando o vírus e incentivando aglomerações, contribuiu diretamente para o aumento de mortes. A imprensa internacional também foi implacável: o jornal The Guardian descreveu Bolsonaro como "um perigo para o Brasil e para o mundo", enquanto líderes como Nicolás Maduro, presidente da Venezuela, chegaram a dizer que a variante P1, surgida em Manaus, deveria se chamar "variante Bolsonaro", tamanha era a responsabilidade do presidente pelo caos no Brasil. Essas críticas refletem uma verdade inegável: a gestão de Bolsonaro transformou o Brasil no epicentro global da pandemia em 2021, com consequências que foram sentidas muito além de suas fronteiras.
Um dos aspectos mais trágicos da pandemia no Brasil foi seu impacto desproporcional nas populações mais vulneráveis. A professora Deisy Ventura, da USP, especialista em ética e saúde global, destacou que as populações pobres foram as mais afetadas pela crise. A insistência de Bolsonaro em reabrir o comércio, mesmo nos momentos mais críticos da pandemia, forçou milhões de trabalhadores informais a se exporem ao vírus para sobreviver. Sem a opção de trabalhar de casa ou de receber auxílio financeiro suficiente, essas pessoas enfrentaram um dilema cruel: arriscar a vida ou passar fome. Dados do IBGE mostram que, em 2020, a pobreza extrema no Brasil cresceu, atingindo 13 milhões de pessoas, e a desigualdade se aprofundou. A pandemia não apenas matou — ela escancarou as desigualdades históricas do país, mostrando como a negligência política pode agravar ainda mais as injustiças sociais.
Mas, se a pandemia revelou o pior da política brasileira, ela também mostrou o melhor da ciência e da solidariedade. O Sistema Único de Saúde (SUS), apesar de todas as dificuldades, foi um pilar de resistência, aplicando mais de 400 milhões de doses de vacinas até o final de 2022 e salvando milhões de vidas. O Instituto Butantan e a Fiocruz, com sua produção de vacinas, provaram que o Brasil tem capacidade de liderar em momentos de crise, quando há vontade e organização. E, acima de tudo, os brasileiros mostraram sua resiliência: vizinhos que se ajudaram, comunidades que se organizaram para distribuir alimentos, profissionais de saúde que trabalharam incansavelmente, mesmo sob condições extenuantes. A pandemia foi um teste de fogo, e o Brasil, apesar de tudo, encontrou formas de resistir.
Ao olharmos para trás, fica claro que a Covid-19 foi um vírus biológico que matou milhões, mas, no Brasil, o maior "vírus" pode ter sido a negligência, a desinformação e a falta de empatia de Jair Bolsonaro. Suas falas, como o "E daí?" e o "chega de frescura, de mimimi", não eram apenas palavras — eram uma mentalidade que priorizava a política e a ideologia sobre a vida humana. O bolsonarismo, com seu negacionismo e sua polarização, infectou a sociedade, dividindo o país em um momento em que a união era mais necessária do que nunca. Mas, assim como o vírus biológico, o "vírus político" também deixou lições. Ele nos ensinou a importância de valorizar a ciência, de ouvir os especialistas, de colocar a vida acima de qualquer interesse econômico ou ideológico. Ele nos mostrou que a empatia e a solidariedade são as verdadeiras vacinas contra o caos.
A pandemia da Covid-19 feriu o Brasil profundamente, mas também nos deu a chance de aprender e crescer. As 700 mil vidas perdidas não podem ser esquecidas — elas devem ser o motor para construirmos um futuro mais justo, mais humano e mais preparado para os desafios que virão. A ciência nos salvou, a solidariedade nos uniu, e a memória daqueles que se foram nos inspira. O "vírus" político de Bolsonaro pode ter deixado cicatrizes, mas cabe a nós, como sociedade, transformar essa dor em ação. Então, eu pergunto a você, leitor: o que aprendemos com essa pandemia? E, mais importante, qual será o próximo capítulo da nossa história? Vamos escrever um futuro em que a vida sempre venha em primeiro lugar.
Declaração de Homenagem
Este documentário, "O Vírus: A Pandemia e o Legado de Jair Bolsonaro no Brasil", é uma homenagem às mais de 700 mil pessoas que perderam suas vidas para a Covid-19 no Brasil. Cada uma dessas vidas era única, cheia de sonhos, amores e histórias que foram interrompidas por uma pandemia que poderia ter sido menos devastadora. Que a memória delas nos inspire a lutar por um mundo mais justo, onde a ciência, a empatia e a solidariedade prevaleçam sobre a negligência e a desinformação. Vocês não serão esquecidos.