O som de algo pesado se movendo acima dela trouxe a esperança de que não estava sozinha. Logo, uma fresta de luz cortou a escuridão, e o alçapão se abriu com um rangido alto. Wellyton apareceu, suando e com as mãos sujas de pó.
— Meu Deus, Elisa! Você tá bem? — perguntou, puxando-a para cima.
— Eu… — ela respirava com dificuldade. — Eu não sei o que aconteceu… mas tinha alguém lá embaixo comigo.
Aylon, parado ao lado, ergueu uma sobrancelha com ironia.
— Devia ser sua imaginação. Esse lugar é só um buraco velho.
— Cala a boca, Aylon — retrucou Wellyton, com um tom seco. — Ela tá pálida, tremendo… isso não é invenção.
Ainda atordoada, Elisa se afastou e se sentou no sofá. Mal tinha conseguido retomar o fôlego quando ouviu passos no corredor. Todos se viraram, mas não havia ninguém. Então, uma batida forte veio da porta da frente.
Quando abriu, Elisa encontrou Júlia, ofegante.
— Eu preciso falar com você agora — disse a vizinha, olhando para dentro da casa como se buscasse algo.
Elisa deu espaço para que ela entrasse. Júlia olhou para Wellyton e Aylon, respirou fundo e começou:
— Há muito tempo… um menino chamado Bruno desapareceu. Ele tinha quinze anos. O último lugar onde foi visto foi aqui, nessa casa.
Elisa sentiu um arrepio percorrer a espinha.
— Eu li sobre isso… — murmurou.
— O antigo dono o manteve preso no porão — continuou Júlia, com a voz baixa. — Ele morreu ali, de fome e frio. O corpo nunca foi encontrado. Dizem que o homem se livrou dele, mas… — ela desviou o olhar — alguns acreditam que ele nunca saiu daqui.
A cozinha foi tomada por um estampido: a porta do armário bateu sozinha. Em seguida, todas as janelas se abriram de uma vez, deixando o vento invadir a casa. Objetos caíram no chão, vidros se espatifaram.
— Mas que diabos… — murmurou Wellyton, tentando fechar uma das janelas.
Enquanto isso, sussurros começavam a se espalhar, vindos de todos os cantos. Palavras indecifráveis, como um murmúrio coletivo. Elisa apertou os ouvidos, tentando abafar o som, mas eles pareciam vir de dentro da própria cabeça.
Aylon, irritado, pegou uma barra de ferro que estava encostada na parede.
— Eu vou acabar com isso agora! — anunciou, caminhando até o alçapão.
— Não! — gritou Elisa, tentando impedi-lo. — Você não entende…
Mas era tarde. Aylon bateu a barra contra a tampa de madeira, produzindo um estrondo. O chão tremeu, e um vento gelado passou por todos. Antes que pudesse golpear de novo, algo invisível o atingiu com força, arremessando-o contra a parede. Ele caiu no chão, atordoado e com dificuldade para respirar.
Wellyton correu para ajudá-lo, mas Elisa ficou imóvel, sentindo que o ar na sala estava mais pesado, quase sólido. Uma sombra se projetava no canto, mesmo sem nenhuma fonte de luz que pudesse criá-la.
O celular de Elisa vibrou no bolso. Tremendo, ela tirou e leu a mensagem:
"Você não vai tirá-lo de mim."
Ela ergueu os olhos na direção da sombra, e por um instante teve certeza de ver dois olhos claros brilhando no escuro.
