Capítulo 6 – O último pedido

O vento que cortava a sala parecia carregar um peso invisível, sufocando qualquer tentativa de respirar fundo. As janelas batiam sem controle, a luz oscilava e cada passo que Elisa dava ecoava como se o chão fosse oco.

No meio do caos, o celular vibrou mais uma vez. Com as mãos trêmulas, ela olhou a tela:

"Ajude-me a sair. Siga o que eu disser."

Seu coração acelerou. Até então, as mensagens haviam sido apenas ameaçadoras ou enigmáticas. Desta vez, havia um pedido claro.

— Wellyton… acho que ele quer que eu o ajude — disse, quase sem voz.

— Você tá maluca? — ele respondeu, segurando-a pelo braço. — Esse negócio quase matou o Aylon!

— E se for isso que ele quer? — insistiu Elisa. — E se tudo isso estiver acontecendo porque ele quer ser liberto?

Aylon, ainda apoiado na parede, tossiu.

— Libertar um fantasma… você ouve o que tá dizendo?

Outra mensagem chegou:

"Vá ao porão. Escave perto da parede da escada."

Elisa olhou para Júlia, que permanecia séria, como se já soubesse o que aquilo significava.

— Vá — disse a vizinha, com um tom grave. — Se é o Bruno, ele quer que você encontre algo.

Segurando a lanterna, Elisa desceu os degraus do alçapão. O ar ali parecia mais frio do que nunca, quase congelante. A luz tremia sobre as paredes marcadas por unhas. Seguindo as instruções, ela ajoelhou-se perto da escada e começou a cavar com as mãos, sentindo a terra úmida e fétida.

Após alguns minutos, seus dedos tocaram em algo metálico. Ela puxou com força e revelou um anel enferrujado, simples, mas com as iniciais B.S. gravadas. Ao segurá-lo, um arrepio percorreu todo o seu corpo.

O celular vibrou novamente:

"Meu último pedido: leve para o meu descanso."

Júlia, já esperando na cozinha, pegou as chaves do carro.

— Eu sei onde é — disse, firme. — O túmulo dele, ou o que restou dele.

Dirigiram até o cemitério antigo, na parte mais afastada da cidade. Entre lápides quebradas e mato alto, Júlia parou diante de uma cruz de madeira quase caída.

— Aqui. Ele nunca teve um enterro de verdade, mas este é o lugar que a mãe dele costumava visitar.

Elisa ajoelhou-se, colocou o anel no pé da cruz e fechou os olhos. O vento cessou, e por alguns segundos, o silêncio foi absoluto. Então, sentiu um toque frio e leve no ombro.

Uma voz masculina sussurrou em seu ouvido:

— Agora eu posso ir… mas alguém precisa ficar.

Quando abriu os olhos, não havia mais ninguém atrás dela. O peso no ar desapareceu, e por um momento, ela sentiu paz — ou pelo menos acreditou sentir.


Três meses depois

O portão rangeu quando um carro estacionou na frente da casa. Uma mulher jovem, de cabelos castanhos presos em um coque, carregava uma caixa nos braços.

— Ufa… nova vida, novo começo — disse para si mesma. — Que seja um bom lugar.

Seu nome era Letícia. Ela entrou, observando o silêncio absoluto da casa.

Colocou a caixa sobre a mesa e pegou o celular para tirar uma foto do novo lar. Antes de abrir a câmera, a tela acendeu sozinha, mostrando uma nova mensagem de um número desconhecido:

"Me tire daqui. Estou no porão."

A câmera dela capturou, no reflexo da tela, duas sombras atrás dela… mas a casa estava vazia.