A vida tem um jeito engraçado de nos ensinar as coisas, muitas vezes da forma mais inesperada. Depois de toda a confusão com Antonela, das brigas, das mágoas e das tentativas de entender o que deu errado, percebi uma coisa simples: a oficina e os carros sempre foram minha verdadeira paixão. E não era só sobre o barulho dos motores ou o cheiro de óleo queimado. Era sobre o que esse mundo representava para mim — um refúgio, uma forma de expressar quem eu realmente sou.
E, claro, não poderia ter passado por tudo isso sem os caras. Gabriel, Brendon, Henrique e Ney foram fundamentais nesse processo. Eles nunca me deixaram cair de vez, sempre tinham uma piada, um conselho (alguns absurdos, mas quem liga?) ou apenas ficavam ali, comigo, como se soubessem que o silêncio entre amigos também cura. A verdade é que a gente formava um time, dentro e fora da oficina. Cada um com sua história, cada um com suas próprias feridas, mas todos unidos por uma coisa: o amor por carros.
Eu costumava pensar que o carro era só um meio de transporte, algo para me levar de um ponto A ao ponto B. Mas com a Salva, percebi que ela era muito mais do que isso. Era uma extensão da minha personalidade, da minha história. Cada peça que eu coloquei, cada ajuste que fiz, refletia um pedaço de mim que eu estava reconstruindo. E, no final das contas, a Salva estava pronta. Completamente personalizada, com detalhes únicos, cheios de significado.
Naquele dia, quando finalizei os últimos ajustes na suspensão e polimos a pintura até que ela ficasse brilhando como um espelho, senti algo que não sentia há muito tempo: paz. Olhei para o carro e percebi que, de alguma forma, aquele processo todo tinha sido minha cura. O fim com Antonela doeu, mas a dor me levou para onde eu precisava estar — de volta a mim mesmo.
Enquanto observava a Salva, meus pensamentos foram interrompidos por Ney, com seu jeito debochado de sempre.
— Fala aí, tá pronto pra desfilar com essa belezura? Ou vai ficar aqui babando nela o dia todo?
Eu ri, sabendo que ele estava me provocando, mas a verdade era que ele e os outros sabiam o quanto aquele carro significava para mim. Gabriel, sempre mais introspectivo, me deu um tapinha nas costas.
— Você fez um bom trabalho, cara. A Salva tá incrível, mas acho que você sabe que isso não é só sobre o carro, né?
Eu sabia. Brendon, já com a chave do carro na mão, piscou para mim.
— Bora dar uma volta, que essa beleza merece um teste na pista!
Henrique, como sempre, olhava cada detalhe da Salva como se estivesse prestes a dar uma aula sobre aerodinâmica. Ele se aproximou, apontando para as rodas.
— Esse conjunto tá perfeito. Balanceado, sem exageros. A gente mandou bem.
Eu ri de novo, sentindo aquela leveza que não sentia fazia tempo. Eles estavam certos, claro. A Salva estava pronta, e eu também. Durante todo o processo de customização, eu estava, de alguma forma, customizando a mim mesmo. Peça por peça, estava colocando minha vida de volta nos trilhos. E agora, com meus amigos ao lado, sentia que estava pronto para seguir em frente.
Antonela? Ela fez parte da minha história, sem dúvida. Mas eu percebi que o fim do relacionamento não era o fim da minha vida. Foi apenas uma curva no caminho. E, assim como qualquer bom motorista sabe, o importante é como você ajusta o volante e segue em frente.
Os carros rebaixados sempre foram uma paixão que, no fundo, me definiu. Mas agora, essa paixão tinha se tornado uma forma de transformar a dor em algo positivo. Eu podia passar horas mexendo nos carros, ajustando detalhes minuciosos, e, no fim, saía dali com a cabeça mais leve, com a alma mais tranquila. Os carros, a oficina e, claro, meus amigos, foram minha cura. Eles me ajudaram a enxergar que a vida continua, que a gente sempre pode consertar o que está quebrado, mesmo que leve tempo.
A Salva estava completa, e eu também. Senti que não importava mais se Antonela estava na minha vida ou não. O que realmente importava era que eu tinha encontrado meu caminho, com ou sem ela. Estava pronto para o próximo capítulo, o próximo desafio. Talvez uma nova relação, talvez uma nova aventura. Quem sabe?
Mas, naquele momento, enquanto eu colocava a chave na ignição da Salva e o motor ronronava como uma música familiar, só sabia de uma coisa: estava livre. Pronto para seguir a estrada, de cabeça erguida, sem medo do que viria pela frente.
E, ao lado dos meus amigos, com o som da estrada e o vento no rosto, senti que, finalmente, estava no controle.
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