Aquela madrugada estava consumida pela escuridão e pelo desespero. O Titanic, imponente em seu naufrágio, se inclinava lentamente enquanto o mar gelado ameaçava engoli-lo por completo. Fillemon, consumido pela culpa e pelo pânico, percorria os corredores em um estado de confusão e desespero.
Ele havia perdido Isabella no caos, e o sentimento de perda o atormentava. Fillemon estava determinado a encontrar uma forma de se redimir, mesmo que isso significasse enfrentar seus próprios demônios em meio à tragédia.
O som das ondas quebrando contra o casco e o crepitar das estruturas se despedaçando tornavam a atmosfera ainda mais opressiva. A cada passo, Fillemon procurava desesperadamente por Isabella, sua mente cheia de arrependimento e a sensação de que, se pudesse encontrar Isabella, talvez pudesse fazer alguma diferença.
Enquanto o Titanic se inclinava perigosamente, Fillemon avistou um grupo de passageiros sendo agrupados perto das baleeiras. Ele se aproximou, lutando contra a maré de pessoas que tentavam desesperadamente se salvar.
— Deixe-me ajudar — disse Fillemon ao oficial responsável. — Quero garantir que essas pessoas tenham um lugar.
O oficial, sem tempo para discutir, concordou e Fillemon ajudou a organizar os grupos. No entanto, mesmo com suas tentativas de ajudar, seu pensamento estava fixo em Isabella, e sua falta o consumia.
Após a maioria dos botes já terem sido lançados, Fillemon, ainda sem sucesso em encontrar Isabella, decidiu voltar ao interior do navio. O Titanic estava agora em um ângulo quase impossível, e a água estava invadindo rapidamente os corredores. O frio cortante e o som do navio afundando criavam uma atmosfera de desolação.
Em uma área escura e quase submersa, Fillemon finalmente encontrou um grupo de passageiros lutando contra o pânico. Ele se aproximou, seu coração batendo forte na esperança de ver Isabella entre eles, mas, para sua profunda angústia, ela não estava lá.
Ele se ajoelhou, o peso da culpa esmagando-o. O remorso por ter causado dor e engano se tornou uma carga insuportável. Em seu desespero, Fillemon se levantou e começou a gritar por Isabella, sua voz ecoando pelo navio que agora estava em seus momentos finais.
— Isabella! Isabella, onde você está?
Enquanto ele percorria os corredores inundados, os minutos pareciam se arrastar. O Titanic estava agora completamente inclinado, e a água estava subindo com uma velocidade implacável. A sensação de impotência era esmagadora.
Em meio à escuridão, uma figura apareceu na distância, sendo arrastada pelas correntes de água. Era Isabella. Ela estava encharcada e exausta, seu rosto pálido e desfigurado pela dor e pelo desespero.
Fillemon correu até ela, seu coração quase parando ao ver seu estado. Ele a alcançou e a abraçou, seus lábios se movendo em um pedido desesperado de perdão.
— Isabella, eu sinto muito. Sinto muito por tudo. Não queria que as coisas fossem assim. Eu... eu deveria ter sido honesto desde o começo. Por favor, me perdoe.
Isabella olhou para ele, lágrimas misturadas com a água que a envolvia. — Fillemon, não há tempo... O navio está afundando.
O desespero tomou conta de Fillemon, e ele tentou encontrar uma saída, uma forma de salvar Isabella. Mas a água estava subindo rapidamente, e a realidade cruel do desastre era inescapável.
— Não, não pode acabar assim — disse Fillemon, sua voz embargada. — Eu não consigo perder você assim.
Isabella deu um sorriso triste, seu olhar agora resignado. — Fillemon, foi bom ter te conhecido. O que mais importa agora é que você seja a pessoa melhor que prometeu ser. Não deixe que minha morte seja em vão.
A água estava agora na altura dos ombros de ambos. Fillemon tentou segurar Isabella mais firme, mas o mar gelado e o movimento tumultuado estavam levando-os para baixo.
— Eu te amo — disse Fillemon, as palavras sendo engolidas pela água.
Isabella murmurou algo em resposta, suas palavras abafadas pelo som crescente do oceano. Em seus últimos momentos, ela fechou os olhos, e a água tomou conta de seu corpo. Fillemon a segurou até o último instante, seu coração partido e cheio de arrependimento.
O Titanic, agora completamente submerso, levou com ele as esperanças e os sonhos dos que estavam a bordo. Fillemon, em seu último ato de coragem, fez um voto silencioso de se tornar a pessoa melhor que Isabella havia acreditado que ele poderia ser.
Com a água finalmente cobrindo-o, Fillemon se entregou à escuridão, sabendo que, apesar da tragédia, havia encontrado, em seus últimos momentos, um vislumbre de redenção e um amor que, embora breve, foi profundamente verdadeiro.