Capítulo 7: Streaming e o Futuro (2010-2019)

 A década de 2010 marcou um ponto de inflexão para a TV Globo: o reinado da televisão aberta, que por décadas pareceu inabalável, enfrentou o impacto da revolução digital. Com a ascensão de plataformas como Netflix e YouTube, a audiência linear começou a encolher, especialmente entre os jovens, forçando a emissora a se reinventar como uma potência multiplataforma. Entre 2010 e 2019, a Globo lançou o Globoplay, investiu em conteúdo original e redefiniu sua estratégia, equilibrando a tradição da TV com as demandas do streaming. Foi uma era de adaptação, em que a emissora buscou o futuro sem abandonar suas raízes.

O lançamento do Globoplay, em 17 de novembro de 2015, foi o marco dessa transição. Inicialmente concebido como um serviço de catch-up para reprises de novelas e programas, como "Avenida Brasil" (2012), o Globoplay evoluiu rapidamente para uma plataforma de streaming competitivo. Em 2017, a série "Sob Pressão", estrelada por Marjorie Estiano e Júlio Andrade, estreou como produção original, abordando os dramas do sistema de saúde público com uma qualidade comparável às séries internacionais. Outros sucessos, como "Justiça" (2016) e "Ilha de Ferro" (2018), consolidaram a aposta em narrativas curtas e densas, atraindo assinantes e críticos.

As novelas, porém, continuaram sendo o coração da Globo. "Avenida Brasil", reprisada com sucesso no Globoplay, tornou-se um fenômeno global, enquanto "O Sétimo Guardião" (2018) e "A Dona do Pedaço" (2019) mantiveram o horário nobre competitivo. Ainda assim, a audiência da TV aberta caiu — em 2019, a média do "Jornal Nacional" girava em torno de 25 pontos, contra os 40 de décadas anteriores. A concorrência da Record, com novelas bíblicas como "Os Dez Mandamentos", e do streaming global pressionava a Globo a acelerar sua transformação digital.

O jornalismo também se adaptou. A cobertura da Copa do Mundo de 2014 e das Olimpíadas de 2016, realizadas no Brasil, foi transmitida em alta definição e multiplataforma, com o G1 e a GloboNews oferecendo conteúdo complementar. A eleição de Jair Bolsonaro, em 2018, colocou o "Jornal Nacional", com William Bonner e Renata Vasconcellos, no centro de debates sobre polarização, enquanto o "Fantástico" investia em reportagens investigativas, como as denúncias da Lava Jato. A Globo enfrentava acusações de parcialidade de ambos os lados políticos, mas mantinha sua influência como referência informativa.

A infraestrutura da emissora evoluiu para suportar essa nova realidade. Em 2018, o MG4, um novo módulo nos Estúdios Globo, foi inaugurado, focado em produções digitais. Parcerias com gigantes como Disney+ (lançada no Brasil em 2020, mas negociada nos anos 2010) e a venda de conteúdo para plataformas internacionais reforçaram o alcance global da Globo. A receita publicitária da TV aberta diminuiu, mas o faturamento do Globoplay cresceu, atingindo milhões de assinantes até 2019.A década terminou com a Globo em uma encruzilhada. A audiência da TV aberta ainda garantia liderança, mas o futuro estava no digital. Em 2019, a emissora anunciou o projeto "Uma Só Globo", unificando TV Globo, Globosat e Globoplay sob uma única estrutura para competir com Netflix e Amazon Prime. O Brasil dos anos 2010 era conectado e fragmentado, e a Globo, aos 54 anos, provava que podia se reinventar — mas a um custo de repensar sua identidade.