Capítulo 7: A traição


CAPÍTULO 7


 A escuridão na sala do gerador era absoluta, cortada apenas pelo brilho fraco das lanternas nas mãos de Heron e Tadeu. A sirene de incêndio, que ecoava por todo o museu, era música para os ouvidos deles, o som da primeira parte do plano funcionando. A tensão, que antes era uma ansiedade, agora era uma concentração fria. A dupla se movia, procurando o painel certo para desativar a energia da sala da joia.

— Tadeu, o painel do gerador está aqui. É o grande, com a luz vermelha. A gente tem que desligá-lo, para acionar a trava de emergência do cofre — Heron sussurrou, apontando a luz para um quadro enorme na parede.

Quando Tadeu estendeu a mão para o painel, uma voz firme e fria ecoou na escuridão, fazendo os dois pararem na mesma hora.

— Eu não faria isso se fosse vocês.

Uma luz de lanterna acendeu, ofuscando a visão deles. Quando os olhos se acostumaram, eles viram a figura de uma mulher, com uma expressão séria e um coque apertado. Era Úrsula, uma antiga investigadora do submundo de São Paulo, conhecida por sua implacabilidade e por nunca falhar em uma missão.

— Heron e Tadeu. A dupla de amadores. Eu sabia que, cedo ou tarde, vocês iam fazer alguma loucura — ela disse, com a voz cheia de ironia.

Heron não se moveu, seu cérebro trabalhando a mil.

— O que você está fazendo aqui, Úrsula? Você não trabalha para o MASP.

— Não oficialmente. Mas a minha empresa foi contratada para cuidar da segurança de eventos de grande porte. E eu tenho que confessar, o seu plano de distração foi criativo. O problema é que a gente não confia em coincidências — ela disse, e então um sorriso de satisfação surgiu em seu rosto. — Eu sabia que vocês viriam para cá.

A revelação foi um golpe duro. Heron se sentiu encurralado. Úrsula não era a traidora, mas ela estava ali, esperando por eles, como se soubesse de cada passo que dariam. Ela era uma peça no tabuleiro de alguém. A tensão entre os amigos se transformou em desespero. O plano, tão meticuloso, havia desmoronado.

— Como você sabia? Não tem como você saber... — Tadeu murmurou, olhando de Heron para Úrsula, a amizade dos dois sendo posta à prova.

Heron não respondeu. Ele sabia que a traição tinha vindo de dentro. A única forma de Úrsula estar ali era se alguém da equipe tivesse passado a informação. A amizade de Heron e Tadeu era forte, então a traição só poderia ter vindo de Gabriel ou Arthur.

— Deixe-me adivinhar, foi o Gabriel? Ele parecia o mais suspeito — Tadeu disse.

— Não, não foi ele — Heron respondeu, sua voz cheia de frustração. — Úrsula, quem te contratou?

Úrsula sorriu.

— Eu não posso dizer. Mas posso te dar uma dica: nem todo mundo é o que parece ser. E o que parece ser um simples roubo, na verdade, é uma operação muito maior.

De repente, as luzes da sala do gerador se acenderam. A sirene de incêndio do lado de fora parou de soar e uma voz, que eles conheciam bem, ecoou nos alto-falantes.

— Heron, Tadeu, por favor, entreguem-se. O jogo acabou.

Era a voz de uma mulher. Uma voz que não fazia parte do plano. E, naquele momento, Heron e Tadeu sabiam que o verdadeiro perigo não estava na joia, mas na pessoa que os havia traído. O plano havia sido comprometido, e o que eles pensavam ser o roubo da Ocean Blue, na verdade, era uma armadilha, na qual eles haviam caído.