Capítulo 8 – A rebelião silenciosa

 O esconderijo agora era outro — um antigo centro de tratamento de água, abandonado, escondido por uma vegetação densa e ruínas metálicas. Ali, sob luzes fracas e o som constante de geradores improvisados, o grupo de resistência se preparava para o próximo passo: lutar.

Mas não do modo antigo. Dessa vez, com conhecimento de dentro.

Dehr caminhava à frente, com sua aparência inumana suavizada pela postura contida. Mesmo depois de semanas entre eles, os humanos ainda o observavam com certa desconfiança — especialmente Antônio.

— Se isso for uma armadilha... — disse Antônio, encarando o alienígena nos olhos.
— Então já teria matado todos vocês há muito tempo — respondeu Dehr, com calma.

Nas mãos do ex-Aghariano, estava um dispositivo prateado com linhas luminosas azuis. Um arco metálico de energia oscilava em silêncio dentro do que parecia um canhão de mão.

— Isso é tecnologia experimental. Foi projetada para desativar os chips de controle neural. Em teoria, sem causar danos cerebrais permanentes.

— Em teoria? — resmungou JP, aproximando-se com uma caixa de ferramentas.

— Nunca foi testada em humanos.

— Ótimo — JP suspirou, pegando o protótipo com cuidado. — Deixe comigo. Se tiver um transmissor de pulso, talvez eu consiga adaptar para funcionar por sinal remoto.

— Consegue? — perguntou Milena, sentada ao fundo, observando as peças.

— Só se eu tiver três dias e um pouco de paz. E talvez um milagre.

Nas horas seguintes, o abrigo se transformou em um laboratório improvisado. Cabos e peças foram espalhados por mesas velhas, enquanto JP, suando e com os olhos fundos, tentava ajustar o sistema com a precisão de um cirurgião. Dehr observava, corrigia, sugeria. Um laço técnico começava a nascer entre eles, ainda que os sentimentos fossem conflitantes.

— Se isso funcionar... podemos libertar milhares — sussurrou Laura, esperançosa.

Na terceira noite, o dispositivo estava pronto.

— Vamos testar amanhã — disse JP, com as mãos trêmulas de exaustão. — Mas escolham bem o alvo. Se errarmos, o chip pode reagir... e o hospedeiro morre.

— Já temos um plano — respondeu Antônio.

A operação se deu em silêncio. O grupo rumou para uma zona rural onde se sabia da existência de um campo de trabalhos forçados. Ao chegar, viram dezenas de civis controlados carregando peças, montando estruturas. Nenhum falava. Nenhum resistia.

O protótipo foi ativado.

O pulso saiu como uma onda invisível, espalhando-se pelo campo. Em segundos, alguns prisioneiros começaram a cair de joelhos, tossindo, segurando a cabeça. Mas ao invés de ataques ou mortes, os olhos deles voltaram a brilhar com humanidade.

— Onde estou? — perguntou uma senhora, atônita. — Meu Deus... onde estou?

— Funcionou — Milena murmurou, incrédula.

Mas o momento durou pouco.

— Temos movimento ao sul! — gritou Rafael, observando pelos binóculos.

Cinco soldados Agharianos surgiram, liderando um grupo de humanos com armaduras escuras — olhos opacos, expressões vazias. E à frente deles... alguém familiar.

— Não pode ser... — sussurrou Antônio.

Augusto.

Ele estava diferente. Mais forte. Frio. Carregava uma arma alienígena, e comandava os outros com autoridade. Seus olhos, apesar de humanos, estavam vazios.

— Eles... colocaram ele como líder — disse David, recuando.

— Não... — Antônio deu um passo à frente, a voz presa na garganta. — Filho...

Augusto não hesitou. Apontou a arma na direção deles.

Mas, no último instante, desviou o tiro.

O disparo atingiu uma árvore próxima. Era um aviso.

— Ele hesitou — disse Milena. — Ele ainda está aí dentro.

— Temos que recuar — gritou Laura. — Agora!

Com os civis libertos protegidos em caminhões e carros improvisados, o grupo bateu em retirada sob tiros e gritos. O coração de Antônio batia mais forte do que nunca.

Augusto estava vivo.

Mas era também... o inimigo.

Horas depois, já seguros, JP olhava para o dispositivo com os olhos marejados.

— A rebelião começou. Mas não vai ser silenciosa por muito tempo.

— Então que venha o barulho — disse Antônio, com a voz firme. — Vamos salvar o meu filho.