Que merda está acontecendo? Do nada, parece que tudo acaba dando errado. Se eu olho para casais heterossexuais, parece que é tudo sincronizado e feliz; eles podem sair na rua de mãos dadas, podem assumir o relacionamento para os pais, sua orientação sexual não os impede de conseguir um serviço e eu não vejo história deles terem que se separar quando tudo parece ter dado certo. Eu sinto raiva! Sinto raiva da situação, e de ter desejado encontrar alguém, eu não sabia que as pessoas iam embora.
Talvez eu não saiba perder alguém, já é difícil conviver com a memória de um irmão que eu nunca estive com ele, mas ter que ter memórias de alguém que esteve comigo dói, e dói bastante. Eu só queria amar e ser amado, mas eu não queria que isso tivesse um fim. Agora eu vejo um buraco no meu peito e parece que eu vou voltar a ser apenas um adolescente gay solitário que mora no interior...
— Leandro, você não pode continuar assim! Eu sei que tem alguma coisa acontecendo amigo, você precisa me contar, eu sou sua amiga. Levanta dessa cama! — Minha mãe deixava a Mayara entrar em casa mesmo sem o meu consentimento, isso aconteceu desde quando eu era pequeno, meus amigos sempre tiveram acesso em casa.
— Ok! Ok! Ok! — Respondi me levantando — Eu conheço um menino a algum tempo, e ele vai embora pra São Paulo, e eu vou ficar sem ninguém de novo!
— Você gosta muito dele? — Não respondi, mas meu rosto de choro entregou — Ele sabe disso?
— Sabe, mas eu não falei.
— Então ele não sabe. Vai se arrumar e vá atrás dele!
— Ele mora em Arapoti. A gente só transa...
— Não importa amigo, se você gosta de alguém, você vai lá na casa do caralho e demonstra isso pra ele. Tudo vale a pena se você está fazendo por amor!
Foi desse jeito que acabei pegando um ônibus extra para Arapoti, mesmo pagando mais caro, mesmo com chuva, com frio, nada disso importava, eu acabei me dando conta de que a Mayara estava certa. Ainda que a gente transe, eu sei que da minha parte existe amor e eu preciso tentar, eu preciso me declarar para o menino mais importante da minha vida.
Eu sabia que ele não estaria na rodoviária me esperando, mas quando cheguei lá me deparei com ele outra vez sorrindo de orelha a orelha. Na minha conversa com a Mayara, acabei contando quem era o amor da minha vida e ela fez questão de falar com ele pela internet enquanto eu estava no ônibus.
Levei ele para a linha verde e foi lá que eu falei tudo o que eu sentia. Não sabia uma forma bonitinha de falar então eu falei tudo o que sentia enquanto o olhava nos olhos.
— Maurício, eu sempre quis alguém que fizesse eu sentir todas as coisas boas que eu sinto quando estou com você! Eu sempre quis alguém com quem eu não precisasse usar máscara e que eu pudesse ser eu mesmo! Sempre quis alguém que me fizesse cometer loucuras e este alguém é você! Talvez não seja recíproco, mas eu amo você, eu amo seu jeito, nossos momentos e tudo que a gente viveu. Não quero que nossa história acabe!
