Bullying: como resolver?




 Com toda a certeza do mundo, a pior fase da minha vida, foi aquela onde não existia amor. Sobreviver ao ensino fundamental já é difícil, mas no ensino médio as coisas podem ser piores. Lembro da minha avó ter me ensinado desde pequeno a ser gentil, a não responder, não lutar e não brigar. Tais atitudes fizeram daquele período uma grande chuva de bullying.


 Não eram poucos os apelidos, e eles eram relacionados a minha aparência ou sobre o que decidiram que eu era. Cabeção era um apelido pequeno perto das coisas que estavam por vir, se as palavras machucavam, o silêncio de quem assistia fazia o que? Se até os dias atuais, as lembranças cutucam aquela ferida, eu não consigo imaginar a dimensão de viver aquilo nos dias atuais. Tamanha eram as ofensas e agressões que eu não tinha de onde tirar confiança, não tinha amigos, não tinha nada e ninguém.


 Naquela fase, tudo o que eu desejava era sumir. Não bastasse o pesadelo na escola, em casa eu também vivia agoniado com uma perseguição por parte de alguns dos meus familiares. Acredito que as pessoas não tem a noção de como é fácil destruir o psicológico do outro, então eu me considero muito forte por ter aguentado. Porque para acabar com tudo, bastava um surto. A reviravolta começou quando, desesperado, resolvi fugir. Fui morar em uma cidade diferente e com alguém que eu nunca tinha visto na minha vida.


 Tinha tudo para dar errado e as coisas deram errado outras vezes. Porém, no meio do caos, conheci alguém que soube me mostrar ser forte e o que eu deveria fazer para ser forte. Aquele ensinamento de não responder, não reagir e não brigar era a pior coisa que alguém como eu poderia fazer. A minha cabeça realmente é um pouco maior do que o normal, mas que caralhos isso tinha a resultar na vida de outra pessoa?


 Estava nascendo o amor próprio. Onde eu não gosto de alguma parte do meu corpo, única e exclusivamente, por uma opinião minha. E precisamos ter o nosso espaço, merecemos ter uma boa lembrança da escola e é uma obrigação que o outro me respeite, não me importa a educação que ele teve em casa, sua religião ou o seu costume, eu preciso existir e se isso incomoda alguém, essa pessoa vai ter que me aturar.


 Ter confiança em mim mesmo foi o ponto onde eu aprendi que posso gostar da música que eu quiser, e não da música que um grupo gosta, foi onde eu descobri que eu posso ter um peso a mais que o seu e isso não faz de mim alguém menos bonito, foi onde eu descobri que beijando menina e menino, isso não é da conta de ninguém e se você não me aceitar, sou eu que vou querer ficar longe de você.


 Que queremos ser amado, isso é um fato, mas eu precisava entender que podem me amar exatamente do jeito que eu sou. não nascemos para sermos moldados então se o seu desejo é conquistar o mundo, é exatamente lá que você pode chegar. O grande segredo é que aprendi a lutar por mim, sei o que eu mereço e não espero nada menos do que respeito. Se for preciso, a gente briga...


 Atualmente, o que eu espero de mim é ser a voz que eu não tive, o alguém que eu não conheci e o amigo que eu esperava. Porque a nossa atitude não deve ser retribuir o mal que alguém nos fez, mas sim impedir que outros acabem passando pela mesma situação. Se nos unirmos, temos mais força, porque assistir alguém ser humilhado é ser conivente com tudo o que está acontecendo.


 Sei que é muito complicado para quem sofre bullying tomar alguma atitude, mas se estou escrevendo esse texto é porque estou oferecendo a minha mão. É só por sua causa, porque a história é minha, mas a pessoa importante é você! Precisamos ser fortes, mas as pessoas em nossa volta não podem apenas assistir e achar que não fazer nada não é cometer bullying, porque a vítima ali pode não pedir a sua ajuda, mas tudo o que ela precisa é de alguém se intrometendo naquela situação, garantindo que aquilo não ocorra novamente.


Se faz necessário um trabalho que possa incentivar consciência na população de compreender que não fazer nada é ser conivente com aquela crueldade. Tragédias acontecem por razões que desconhecemos, não é que aquele alguém era ruim, ele só escolheu não ajudar quem talvez via naquele alguém uma última esperança. Precisamos acabar com o bullying, você pode não estar sofrendo com isso, mas se conhece alguém, faça o mínimo: defenda-o.