O “cansaço social”: por que tanta gente quer sumir por um tempo?



 Nos últimos anos, uma sensação tem se tornado cada vez mais comum entre adolescentes e adultos jovens: a vontade de desaparecer por um tempo, de “dar um tempo do mundo”, de sumir das redes sociais, das obrigações, das pessoas. É como se a convivência constante, mesmo que digital, estivesse drenando as energias. Esse fenômeno tem nome e é mais comum do que parece: o “cansaço social”.

Mas por que tanta gente está se sentindo assim? Uma das principais causas é o excesso de estímulos. A todo momento, estamos sendo bombardeados por mensagens, cobranças, notificações e comparações. As redes sociais criaram a sensação de que precisamos estar disponíveis o tempo todo, felizes o tempo todo, produtivos o tempo todo. Quando a gente não consegue acompanhar esse ritmo, bate a culpa. Sentimos que estamos ficando para trás ou que não somos suficientes. E esse sentimento, mesmo silencioso, pesa. É como se existisse uma obrigação invisível de agradar, responder, corresponder, manter a imagem. E isso cansa.

Outro fator importante é a falta de espaços seguros para sermos vulneráveis. Em muitas amizades e até na família, não sentimos liberdade para dizer que estamos exaustos ou tristes sem parecer fracos ou “dramáticos demais”. Guardar tudo para dentro só aumenta a pressão, como uma panela de pressão emocional que uma hora estoura. Além disso, a pandemia deixou um legado emocional importante: o isolamento forçado fez muita gente repensar a maneira como se relaciona. Muita gente percebeu que não tem mais energia para relações superficiais ou ambientes que sugam em vez de acolher.

Então, o que a gente pode fazer para aliviar esse cansaço? Em primeiro lugar, reconhecer que ele é real e legítimo. Ninguém precisa estar bem o tempo todo. Dar-se permissão para descansar, se afastar por um tempo, silenciar notificações ou negar convites é um ato de autocuidado, não de egoísmo. Também é importante repensar os vínculos. Quais pessoas te energizam e quais te esgotam? Não se trata de cortar todo mundo, mas de encontrar equilíbrio entre estar presente para os outros e estar presente para si mesmo.

Outra sugestão prática é criar momentos de pausa verdadeira. Pode ser cinco minutos longe do celular, uma caminhada sem fones de ouvido, escrever num caderno o que está sentindo, ouvir uma música que te acalma ou simplesmente não fazer nada. A produtividade exagerada virou uma armadilha moderna, mas descansar também é um direito. E mais do que isso: é uma necessidade humana.

Buscar ajuda profissional também é um passo importante. Terapia não é só para quem “está no fundo do poço” — é para quem quer se entender melhor, encontrar alívio e aprender a lidar com esse mundo barulhento. Falar com alguém capacitado pode trazer uma leveza que, às vezes, não conseguimos sozinhos.

Por fim, precisamos normalizar o silêncio, o afastamento e o descanso como partes naturais da vida. Ninguém é uma máquina. Sentir-se cansado da sociedade, das interações, das exigências — tudo isso é um sinal de que seu corpo e sua mente estão pedindo um tempo. E atender a esse pedido pode ser o primeiro passo para uma vida mais leve, mais consciente e mais verdadeira.