Meu amor, eu sei que não é muito normal que alguém dê tanta importância para ficantes, seja ela de uma noite ou que dure exatamente 97 dias. Sou grato a você e a algumas outras pessoas pelos momentos que passamos juntos, pelos beijos, conversas, sexo e a florzinha que eu ganhei de uma delas depois do expediente.
Não escrevo isso para reatar nada, nem para causar saudade. Escrevo porque lembrar de vocês é como rever fotos antigas: às vezes dói, às vezes aquece, mas sempre conta quem eu fui — e um pouco de quem ainda sou. Cada um de vocês deixou algo, mesmo que a gente tenha se esbarrado apenas uma vez.
Te conheci em Arapoti e, por alguma razão, parecia que já nos conhecíamos há anos. O jeito com que você falava me dava calma. Em Taquarituba, teve o passeio no lago, e eu lembro exatamente da luz do sol batendo no teu rosto. Em Sengés, tudo aconteceu rápido demais, mas até hoje eu consigo ouvir teu riso. Em Ibaiti, foi numa noite gelada e com uma troca de olhares que durou mais do que deveria. Em Ponta Grossa, eu andei um longo caminho só pra não perder o horário da volta e ainda assim não me arrependi nem por um segundo. Em Itapeva, teve o frio, a estrada, o capacete apertado, e teu abraço, forte e distraído. E em Curitiba... foram os bares, os encontros depois do expediente no hospital, as conversas lentas e o cansaço que dividimos sem perceber. Ah, o banheiro...
Cada cidade, um pedaço da minha história. Cada um de vocês, um traço do que vivi. E eu não quero romantizar tudo, não. Teve silêncio constrangedor, teve expectativa demais, teve falta de resposta. Mas teve também carinho, desejo, vontade de ficar. E isso importa. Porque ficantes também fazem parte da nossa vida — às vezes com mais intensidade do que muitos relacionamentos “sérios”. Tem gente que passa a vida esperando um amor definitivo, mas se esquece de reconhecer os amores que foram possíveis. Os breves, os imperfeitos, os que deixaram marca.
Vocês foram capítulos curtos, mas completos. Foram histórias que talvez não tenham tido final feliz, mas tiveram começo, meio e emoção. E eu agradeço por isso. Agradeço pela coragem de ter tentado, por terem estado ali comigo, por um tempo, do jeito que deu. Talvez vocês nem se lembrem mais de mim com nitidez. Mas eu lembro. E talvez isso já baste.
Com carinho,
de alguém que não esquece quem fez parte — ainda que por pouco.
