A reciprocidade não é um luxo



 São muitos os posts e vídeos em redes sociais falando sobre sentimentos, que quando alguém não dá valor na gente, que deveríamos abrir nossos olhos e largar mão dessa pessoa. Por mais que essa teoria pareça tão simples e objetiva, o processo para que a gente aceite que aquela pessoa não nos dá mais valor é difícil.

 Aceitar que estamos nos desgastando é difícil, ainda mais quando somos alguém que nos dedicamos para o outro, que colocamos ele em primeiro lugar, que estamos sempre disponíveis, que estamos nos preocupando e que queremos aquela pessoa feliz. O que faremos?

 A gente tenta se enganar, acreditar que a rotina daquela pessoa realmente está corrida, que ela não tem tempo, que ela não teve 30 segundos do dia pra pegar o celular e perguntar como a gente estava ou responder uma mensagem nossa. O mais impressionante é como a gente consegue compreender que o outro não consegue sair com a gente, mas com as outras pessoas sim. Será que sou eu quem tem algum problema?  E ainda nos esforçamos para não cobrar, porque não queremos atrapalhar.

 Aceitamos migalhas quando a gente se entrega por completo. A verdade é que esse ciclo de dar e não receber é o que mais nos cansa. Gastamos toda a nossa energia inventando desculpas para a falta de atenção do outro. A gente pensa: "Ele deve estar muito ocupado", "Ela é assim mesmo, não gosta de celular", "Se eu for mais legal, ele vai ver meu valor". Mas, no fundo, cada desculpa que damos para o outro é uma agressão contra nós mesmos, é a nossa autoestima rachando um pouquinho mais. É muito mais fácil justificar o descaso do que encarar a dura realidade: a gente não é prioridade, e talvez nunca vá ser para aquela pessoa.

Chega um ponto em que a gente não aguenta mais sustentar essa fantasia. O peso de tentar ser visto e implorar por atenção fica insuportável. É nesse momento que a ficha cai. Não se trata de um problema nosso, de não sermos bons o suficiente; o problema é a falta de vontade do outro em nos valorizar. A falta de valorização dele não diz nada sobre quem você é, mas diz muito sobre quem ele é e o que ele tem a oferecer (que, no caso, é pouco, ou nada.).

Quando a gente aceita isso, começa o caminho mais difícil: o luto. É um luto pela perda da pessoa que idealizamos, pelo futuro que imaginamos ao lado dela, e, principalmente, pelo fim da esperança de que ela um dia mudaria. Dói muito, porque é uma perda real. E a gente precisa se dar permissão para sentir essa dor. Não adianta querer pular essa fase ou fingir que está tudo bem, porque o luto não é um evento, é um processo. Não é só "largar mão", como dizem os vídeos; é curar a ferida de ter investido tudo em um terreno que não floresceu.

A única forma de sair dessa espiral é trazer o foco de volta para onde ele deveria estar: em você. Você passou tanto tempo pensando na felicidade e na vida do outro, que se perdeu. A mesma energia que você usava para checar o celular, para se preocupar ou para planejar algo para quem não ligava, precisa ser redirecionada. É hora de se perguntar: "O que eu preciso?", "O que me faz sorrir de verdade, sem depender dele ou dela?". É voltar a investir em si mesmo, na sua carreira, nos seus amigos que te amam de verdade, naquele hobby esquecido.

É neste ponto que você começa a colocar limites. E limite é a maior prova de amor-próprio que existe. Não precisa ser um rompimento explosivo, mas sim a decisão de parar de estar sempre disponível. É demorar para responder sem sentir culpa, é dizer "não" para os convites de última hora que só te usam como tapa-buraco, e é parar de oferecer o seu melhor para quem te oferece o mínimo. Cada vez que você se recusa a aceitar migalhas, você está se reafirmando e protegendo sua dignidade.

Entenda que o seu valor é inegociável, e a reciprocidade não é um luxo; é a base de qualquer relação saudável. Se a pessoa não consegue te dar isso, você não pode se destruir tentando construir algo sozinho. A sua capacidade de amar e se dedicar é um presente, e não pode ser jogada fora com quem não sabe segurá-la. É hora de reconhecer que quem perde nessa história não é você que está se afastando, mas sim quem não teve a capacidade de te manter por perto.

Largar mão de quem não te valoriza é difícil, mas é um ato de coragem imensa. É a única forma de se libertar. Ao se afastar, você não está perdendo nada; está ganhando a chance de reencontrar a pessoa mais importante da sua vida: você mesmo. E quando você se coloca no centro, você finalmente abre espaço para que, no tempo certo, alguém que realmente saiba admirar e retribuir a sua entrega inteira, possa fazer parte da sua vida. E essa pessoa, com certeza, vai te dar muito mais do que 30 segundos de atenção.