O café esfriou.
De novo.
Era pra ser um daqueles começos de dia organizados: levantar cedo, arrumar a cama, abrir a janela e começar a trabalhar com a mente tranquila. Mas bastou uma notificação no celular, um pensamento que desviou o foco, e pronto, o tempo passou sem pedir licença.
Quando finalmente voltei pra xícara, o café já não fumegava. Estava frio, amargo, diferente do que eu esperava. A primeira reação foi de irritação, porque parece que o mundo insiste em não seguir o nosso roteiro. Mas, antes de esquentar de novo, eu parei.
E percebi algo simples: o café frio também tem o seu gosto.
A vida é feita disso, de coisas que não saem como o planejado. De planos que atrasam, encontros que não acontecem, pessoas que mudam de ideia. A gente tenta controlar o relógio, o destino, as respostas, mas nada obedece completamente.
E talvez isso não seja um problema.
Talvez seja um lembrete.
Porque, enquanto eu bebia aquele café sem calor, percebi que o sabor estava diferente, sim, mas ainda era café. Continuava sendo o que era, mesmo depois do tempo passar. E foi nesse detalhe que encontrei uma paz estranha: o mundo não precisa estar perfeito para continuar sendo bonito.
A verdade é que a vida também esfria, muda de tom, perde o brilho por um momento. Mas ela não deixa de ser vida. Às vezes, o que a gente chama de erro é só o jeito da vida ensinar paciência, flexibilidade e presença.
Hoje, aprendi que o café frio pode ser uma metáfora.
Uma pausa forçada que obriga a aceitar o momento como ele é, sem querer aquecê-lo com expectativas.
Talvez o segredo seja esse: deixar o café esfriar de vez em quando, respirar fundo e tomar um gole assim mesmo.
Nem tudo precisa estar quente para fazer sentido.
