Capítulo 2: O tempo que a gente não tem


 

Outro dia, percebi que passei a manhã inteira tentando adiantar o futuro.

Enquanto escovava os dentes, já pensava no café. Durante o café, pensava nas tarefas do dia. E, no meio das tarefas, só conseguia pensar em quando tudo acabaria. Quando finalmente parei, já era noite. E eu mal tinha vivido o dia que tanto quis aproveitar.

A sensação é essa: o tempo escorre por entre os dedos enquanto a gente tenta segurá-lo.

Vivemos como se o tempo fosse um inimigo a ser vencido. Corremos contra ele, brigamos com o relógio, nos culpamos por não render o suficiente. Mas, no fundo, não é o tempo que falta. É presença.

A verdade é que ninguém consegue ganhar tempo, porque ele nunca foi uma moeda. O tempo é mais parecido com o vento: passa, toca, leva, e a gente só sente quando se permite parar por um instante.

Um dia, entendi que o tempo não quer ser controlado, ele quer ser vivido. Quer que a gente acorde devagar, tome o café olhando pra janela, faça algo sem pressa, ouça alguém de verdade.

Talvez o problema seja que aprendemos a medir a vida por produtividade, e não por presença. Como se o valor do dia dependesse de quantas tarefas foram riscadas da lista.

Mas há dias que valem inteiros só por um silêncio bem vivido.

Desacelerar não é desistir. É perceber que há vida entre uma meta e outra, que há beleza nas pausas e sentido no vazio. O tempo não é dívida, é presente. E presente, como o nome diz, só existe agora.

Talvez o verdadeiro progresso não esteja em fazer mais, e sim em estar mais.

Hoje, quero parar de correr atrás do tempo.
Quero apenas caminhar ao lado dele.