Brasília

CAPÍTULO 5

4 de dezembro de 1995.

Uma banda de cinco meninos de Guarulhos, que se apresentam vestidos de heróis infantis, como He-Man e Chapolim, é o maior fenômeno musical dos últimos anos.
Com letras metidas a engraçadas, recheadas de palavrões e que falam de suruba, os Mamonas Assassinas venderam, em cinco meses, 1,3 milhão de cópias do disco de estréia -693 mil em novembro. A EMI, gravadora do grupo, avalia que eles chegarão a 2 milhões até o fim do ano, mais do que Roberto Carlos vendeu em 94.
"Temos um carisma muito grande e conseguimos atingir um público que vai da criança ao adulto. Não lembro de ninguém que tenha atingido em cheio todo mundo como a gente", afirma Dinho, 24, cantor e líder dos Mamonas.

É incrível como em apenas 1 semana, aquela em que conseguiram escrever as 12 músicas, os Mamonas Assassinas conseguiram definir seu futuro e abrir as portas para uma possível carreira internacional que começaria em março de 96.

REFERÊNCIAS

Cheios de referências, nas 14 faixas de um álbum extremamente cuidadoso em sua gravação e mixagem, o que mais encantava era a infindável lista de influências que a banda desenrolava em suas debochadas composições. Certa vez em uma entrevista, Dinho declarou que todas as citações eram homenagens aos artistas que eles ouviram durante toda a vida. Há coisas escancaradas a quaisquer ouvidos, como 'Crocodile Rock' de Elton John em 'Pelados em Santos', 'Should I Stay or Should I Go' do Clash em 'Chopis Centis' ou 'Tom Sawyer' do Rush em 'Bois Don't Cry' (título que brinca com o sucesso do The Cure). Em outros casos, um pouco mais escondidas, como o final de 'Mundo Animal', onde repetem um trecho de 'Toda Forma de Amor', de Lulu Santos.

A banda não se limitava a incluir trechos instrumentais de outras canções. Explorava também toda a versatilidade da boa voz de Dinho com imitações de trejeitos vocais propositais, como Eduardo Dussek em ''Robocop Gay", onde incluíram algumas rimas que citavam quase que ocultamente a canção 'Barrados no Baile' (plástico, elástico, ginástica, bombástica/plástico, cilíndrico, cínico, místico, cirúrgico). Ou em "Uma Arlinda Mulher", onde o cantor emula Belchior, além de copiar e colar a chamada da guitarra distorcida de 'Creep' do Radiohead, antes do refrão. Em "Vira-Vira", primeiro sucesso do quinteto, é Roberto Leal quem incorpora no vocalista.

"Lá vem o Alemão" é uma faixa dedicada ao deboche respeitoso com o pagode mauriçola, terrível moda da época. A primeira parte é "cantada" por Luis Carlos do Raça Negra, e o refrão, por Netinho do Negritude Júnior. Em 'Cabeça de Bagre', a clara homenagem aos Titãs está no estilo da letra e na forma falada de cantar ("Loucura/insensatez/estado inevitável/embalagem de iogurte inviolável"), além dos vocais repetidos no fim de algumas palavras  ("Quando repeti a quinta série/tirava E - E, D - DÊ, de vez em quando C - CÊ").  


Dinho também contou em uma entrevista que Pelados em Santos foi inspirado no seu primo que falava todos os bordões que aparecem na música. Essa, se juntando a Vira-Vira, acabou se tornando uma espécie de hino dos Mamonas Assassinas. Ainda sobre, “referências” e “citações” foram feitas ao longo de todo o clipe, inclusive uma alusão à rede Globo logo no inicio (quando fazem uma contagem regressiva excessivamente rápida para o inicio do clipe).


Por toda a alegria, letras escrachadas, Mamonas Assassinas é reverenciado até os dias atuais. Suas referências tratavam de problemas atuais para a época, então toda essa versatilidade não poderia ter outro marco que não fosse o sucesso. Infelizmente, o último show no Brasil chegou ao fim.


BRASÍLIA



O vocalista do grupo Mamonas Assassinas, Alecsander Alves, o Dinho, encerrou seu último show, no sábado a noite em Brasília, no meio da plateia. Ele desceu até o gramado do estádio Mané Garrincha para se despedir do público. O gesto foi um agradecimento especial pelo último show da turnê. O espetáculo durou uma hora e dez minutos, a partir das 19h55. Logo em seguida, os músicos deixaram o estádio diretamente para o aeroporto. 

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